ALIANÇA EVANGÉLICA. — I. Origem e programa. II. Organização. III. Resultados.
I. ORIGEM E PROGRAMA.
A Aliança Evangélica não é uma seita distinta, nem mesmo uma confederação de Igrejas separadas; é simplesmente uma associação livre de protestantes de diferentes Igrejas e de diferentes países, formada com o objetivo de promover a união entre cristãos e a liberdade religiosa em todo o mundo. Ela se chama evangélica porque tem como base a crença em um certo número de verdades que seus membros aceitam como sendo a própria substância do Evangelho. Ela não se reconhece nenhum poder doutrinal ou legislativo, mas conta unicamente com a potência moral da verdade e da caridade para atingir seu objetivo. Foi em 1846, em Londres, na Inglaterra, que esta aliança foi definitivamente fundada. Há muito tempo já, mas sobretudo desde o começo deste século, a necessidade de união se fazia sentir entre os protestantes: as divisões cada vez mais numerosas, e as lutas fratricidas e escandalosas entre as antigas e as novas seitas mal permitiam reconhecer nelas esta Igreja de Cristo fundada na união dos espíritos e dos corações. Foi então que homens sábios e moderados, L. Gaussen na Suíça, Kniewel na Alemanha, Fisch e Frossard na França, Steward, James e Liefchild na Inglaterra, Schmucker e Patton nos Estados Unidos convidaram seus correligionários a formar uma união de orações para afirmar e proclamar a união que deve existir entre cristãos. Em 1842, a Igreja Presbiteriana da Escócia fez um esforço, que permaneceu infrutífero, para estabelecer relações fraternas com as outras Igrejas protestantes. O ministro americano Patton deveria ter mais sucesso ao propor uma conferência geral dos delegados das principais seitas. Uma reunião preliminar ocorreu em Liverpool em outubro de 1845, para discutir as bases desta conferência; e no ano seguinte, em 19 de agosto de 1846, oitocentos delegados, pertencentes a cinquenta denominações diferentes, reuniram-se em Londres, no grande salão do Freemasons’ Hall, e se formaram em assembleia constituinte para fundar a Aliança Evangélica. Decidiu-se admitir como membros da Aliança todos aqueles que subscreveriam os nove artigos seguintes: 1º a inspiração e a autoridade das santas Escrituras como única regra de fé; — 2º o direito e o dever do juízo privado na interpretação das Escrituras; — 3º a unidade de natureza e a trindade de pessoas em Deus; — 4º a corrupção moral da natureza humana em consequência da queda original; — 5º a encarnação do Filho de Deus, sua obra redentora pelos pecados do mundo e a mediação que ele não cessa de exercer; — 6º a justificação do pecador pela fé somente; — 7º a obra do Espírito Santo na conversão e na santificação do pecador; — 8º a imortalidade da alma, a ressurreição dos corpos, o juízo final, a eternidade de felicidade reservada aos justos e o castigo eterno dos maus; — 9º a instituição divina do ministério cristão, a necessidade e a perpetuidade dos dois sacramentos, do batismo e da ceia. Este programa foi severamente criticado desde sua aparição, alguns o achando muito amplo, e outros muito estreito; censurava-se-lhe sobretudo por excluir, pelo artigo 9, uma das seitas mais respeitáveis por seu espírito cristão, os quakers. A filial francesa, mais liberal, abandonou em 1854 a fórmula de Londres, e a substituiu por esta, muito mais elástica: «A filial francesa da Aliança Evangélica admite como membros todos os cristãos que, querendo viver no amor fraternal, expressam a intenção de confessar com ela, conforme as Escrituras inspiradas por Deus, sua fé comum no Deus Salvador: no Pai que os amou e que os justifica pela graça, pela fé em seu Filho; no Filho que os redimiu por seu sacrifício expiatório, e no Espírito Santo, o autor de sua regeneração e de sua santificação, um único Deus bendito eternamente, para a glória do qual desejam consagrar sua vida.» Notar-se-á o vago calculado desta declaração que um unitarista inteligente poderia assinar com as duas mãos.
II. ORGANIZAÇÃO.
A Aliança Evangélica é dividida em um certo número de filiais nacionais, independentes umas das outras, e não tendo sequer um escritório central para conectá-las; as duas mais ativas são a filial inglesa, com sede em Londres, e a dos Estados Unidos, cujos escritórios ficam em Nova York; há também ramificações na Alemanha, França, Suíça, Holanda, Suécia, Itália, Turquia, Austrália, Índias e em vários países de missões. Desde 1857, a cada ano, no início de janeiro, as diferentes filiais nacionais organizam o que se chama de uma semana de oração, durante a qual se oferecem, nos principais templos filiados à associação, orações públicas pelos grandes interesses da Igreja cristã e sobretudo pela união e paz. Além disso, cada filial tem suas reuniões especiais, as diferentes filiais inglesas uma vez por ano, a filial americana uma vez a cada dois anos, as outras filiais um pouco menos frequentemente. Há também a cada cinco ou seis anos conferências gerais, onde os delegados das diversas filiais discutem juntos as questões de interesse geral e ouvem os relatórios feitos sobre o estado religioso dos diferentes países. Houve até hoje nove conferências deste tipo, que ocorreram nos grandes centros, em Londres em 1851, em Paris em 1855, em Berlim em 1857, em Genebra em 1861, em Amsterdã em 1867, em Nova York em 1873, em Basileia em 1879, em Copenhague em 1884 e em Florença em 1891. Em 1893, uma conferência ocorreu em Chicago, por ocasião da Exposição; mas era uma conferência puramente nacional. O secretário da filial americana teve a bondade de nos informar que atualmente não se pode prever em que época ocorrerá a próxima reunião geral.
III. RESULTADOS.
Se devemos acreditar nos relatórios da Aliança, os resultados obtidos seriam consideráveis. Do ponto de vista da liberdade religiosa, um progresso real seria devido à sua intervenção; ela teria contribuído para abolir na Turquia a pena de morte imposta contra aqueles que renunciam à religião muçulmana; para abrandar na Rússia o destino dos luteranos que vivem nas províncias bálticas, e dos batistas que residem nas províncias do sul; para fazer cessar a perseguição dos cristãos no Japão, dos nestorianos na Pérsia; para libertar na Espanha e na Itália alguns prisioneiros, cujo único crime (?) era ler a Bíblia. Do ponto de vista da união, ela favoreceu uma aproximação entre os homens inteligentes das diferentes denominações, e pregou um entendimento cordial entre as diversas Igrejas locais e as sociedades missionárias que trabalham no estrangeiro. O sucesso correspondeu a tantos esforços? Sem dúvida, há hoje mais liberdade religiosa nos países pagãos do que há cinquenta anos; ela se deve às repreensões platônicas da Aliança ou à intervenção efetiva dos couraçados europeus? A liberdade que se vangloria de ter favorecido nos países cristãos não degenera em indiferença, e não se vê na Inglaterra, na Alemanha e nos Estados Unidos muitos protestantes deixarem de ser cristãos a partir do momento em que não são mais ardentes episcopais, luteranos, batistas ou metodistas? Quanto à união, é preciso confessar que ela existe menos do que nunca; sem dúvida, é fácil para homens bem-educados tratarem-se caridosamente durante sete ou oito dias que dura uma conferência, mesmo que tenham pontos de vista diametralmente opostos. Mas as seitas continuaram a se multiplicar, e mesmo no seio da Igreja Anglicana, quantas divisões novas, quantas lutas intestinas, por exemplo entre os ritualistas e seus contraditores! A própria Aliança não soube escapar às dissensões internas, e os efeitos da ruptura que eclodiu entre a filial francesa e a filial alemã por ocasião da guerra de 1870, ainda se fazem sentir; assim, em 1876, o comitê de Paris recusou a proposta feita pelo comitê de Londres de convocar uma conferência geral em Paris, por ocasião da Exposição de 1878: não se queria confraternizar com os delegados alemães.
Que nossos irmãos separados, instruídos por esses fracassos sucessivos, compreendam que a união dos corações não pode subsistir por muito tempo sem a união dos espíritos, e esta sem uma autoridade infalível!
Consultar os diferentes relatórios das conferências gerais, particularmente The Evangelical Alliance, Londres, 1847; The Religion’s condition of Christendom, Londres, 1852; Evangelical Alliance Conference, Nova York, 1874; G. Monod, Conférence de chrét. évang. de toute nation à Paris, 1855; J. Monod, Conférence de chrét. évang. à Berlin, 1857; Siebente Hauptversammlung der Evang. Allianz gehalten in Basel, 1879, Basileia, 1879; cf. Lichtenberger, Encyclop. des sciences religieuses, t. 1, Paris, 1877, p. 193-200.
A. TANQUEREY.
