Allatius, Leão



ALLATIUS Léon, erudito grego do século XVII, cuja biografia ainda precisa ser escrita. Embora de fama universal, seu nome apresenta em vários países grafias diferentes. Enquanto nós dizemos comumente Allatius, os italianos escrevem Allacio ou Allacci, e os gregos Ἀλλάτιος. Todas essas formas são igualmente legítimas, cada uma podendo ser comprovada pela assinatura do autor. Este deveria, segundo a etimologia, escrever Halacius ou Halacis, do grego vulgar Ἁλάτζης, que significa salgado, apelido que seu pai Nicolas foi o primeiro a usar, em vez do patronímico Vestarchis. É ao menos o que afirma Etienne Gradi. Nascido em Chio, em 1586, do casamento de Nicolas Allatius com Sébaste Neuridis, Leão mostrou desde muito jovem um gosto muito forte pelo estudo, apesar da extrema delicadeza de sua constituição. Era tão magro que ganhou o apelido de "Aspargo". Estudou primeiro com seu tio materno, Michel Neuridis, pedagogo excelente, mas severo, que para melhor fixar a lição usava largamente o chicote. Era, aliás, um homem de grande conselho e, como todos seus compatriotas, muito hábil nos negócios. Quando Clemente VIII enviou a Chio, para fundar um colégio, os dois jesuítas Vincent Castagnola e Georges Giustiniani, julgou melhor juntar-lhes o jovem Michel Neuridis, que acabara de terminar a filosofia no colégio grego de Roma. Vestindo para a ocasião o hábito religioso, Neuridis ensinou grego a seus compatriotas na nova casa dos jesuítas. Depois de três anos, voltou para Roma levando seu sobrinho Leão, que desejava colocar no colégio grego. Ainda muito jovem para ser admitido de imediato, Leão foi deixado em Paola, aos cuidados de Mario Spinelli, muito ligado à família do Pe. Castagnola. Depois de mantê-lo dois anos na Calábria, Spinelli enviou seu pupilo a Nápoles, onde o fez aprender latim, mas negligenciou o grego. Desejando suprir essa falta, Leão pediu e obteve permissão para ir a Roma. Chegando à cidade em 1º de novembro de 1599, entrou imediatamente no colégio grego de São Atanásio, fundado vinte e dois anos antes pelo papa Gregório XIII. Sob a direção de mestres habilidosos, Leão aprendeu a fundo latim e grego. Em vez de estimular, seus professores tiveram que moderar seu ardor. Em pouco tempo, graças à memória prodigiosa, sua mente se enriqueceu com todos os tesouros da antiguidade. Seu amor pela poesia era tão vivo que, à maneira de Ovídio, só se expressava em versos. Em 9 de março de 1610, defendeu com brilhantismo suas teses de filosofia e teologia. Seu desejo ao deixar o colégio era voltar a Chio para trabalhar na instrução de seus compatriotas; mas Bernard Giustiniani, bispo de Anglona, o reteve ao seu lado e lhe confiou, apesar de não ser ordenado, o cargo de vigário geral. Depois de três ou quatro anos passados na Lucânia, Allatius, atormentado constantemente pela saudade da terra natal, embarcou para Esmirna e de lá foi para Chio. O bispo latino de Vile, Mare Giustiniani, achou nele um precioso auxiliar e não hesitou em nomeá-lo seu vigário geral. Quando, pouco tempo depois, Giustiniani foi a Roma para defender-se de certas acusações feitas contra ele por uma confraria de sua diocese, levou Allatius consigo. Este dedicou ao estudo da medicina os tempos livres que as ocupações lhe deixavam e frequentou na Sapienza as aulas do célebre Júlio-César Lagalla, cuja vida escreveu mais tarde. No mês de outubro de 1616, obteve o diploma de doutor em medicina.

Em vez de partir para Chio com seu bispo, Leão fica em Roma e torna-se hóspede de Paul Regius, cuja casa era nessa época ponto de encontro do mundo intelectual. Vinculado como escritor à biblioteca vaticana, ele então inicia, por meio dos manuscritos, essas investigações frutíferas, que deveria continuar com ardor apaixonado até seu último suspiro. O cardeal Benoit Giustiniani o faz nomear, pouco depois, professor de retórica no colégio São Atanásio. Mas, depois de dois anos, a ambiciosa rivalidade e os métodos ofensivos de outro grego, Matthieu Caryophillis, obrigam-no a se retirar, para grande prejuízo do colégio e intenso desagrado do cardeal Barberini, o novo protetor da instituição. Seu antigo professor de grego, Nicolas Alemanni, que se tornara custódio da Vaticana, lhe confia, por ordem do papa Gregório XV, a delicada missão de ir a Heidelberg para receber a famosa biblioteca palatina, oferecida à Santa Sé por Maximiliano da Baviera, em troca dos subsídios que ele havia obtido para a guerra do Palatinado. Partindo de Roma em 28 de outubro de 1622, Allatius retorna em 28 de junho de 1623, trazendo consigo 196 caixas cheias de manuscritos e impressos preciosos. Ele mesmo escreveu sobre essa viagem um diário interessante, publicado pela primeira vez por Chr. Baehr, nos Heidelberger Jahrbücher der Literatur, 1872, nº 31-32, e uma segunda vez por Giov. Beltrani na Revista Europea, t. XXVIII, p. 5-31. Muito se escreveu sobre essa transferência da Palatina. Além das obras de A. Theiner, 1844, e de Baehr, 1845, deve-se destacar a seguinte, que esgota completamente o assunto: Curzio Mazzi, Leone Allacci e la Palatina di Heidelberg, in-8º, Bolonha, 1893. Gregório XV pensava em recompensar dignamente Allatius quando este faleceu subitamente, poucos dias após o retorno deste (8 de julho). Allatius perdeu nele um protetor que não encontrou mais no novo papa, Urbano VIII, cujos versos gregos ele havia criticado duramente. No entanto, permaneceu fiel à ciência, ao serviço da qual dedicara sua vida. Na falta de Urbano VIII, outros príncipes da Igreja romana permitiram-lhe, por suas liberalidades, continuar seus trabalhos. O cardeal Biscia o nomeou seu teólogo; Félix Contelori, sucessor de Alemanni na custódia da Vaticana, honrou-o com uma amizade ainda mais viva por encontrar nele o melhor auxiliar para organizar e catalogar os manuscritos palatinos. É aí que infelizmente termina a vida de Leão Allatii, escrita por Etienne Gradi, amigo e sucessor de Allatius. Fora de seus livros, esse homem famoso quase não tem mais história. Trabalhador incansável, levava a vida calma e reservada do verdadeiro sábio, dividindo seus dias entre o estudo e os amigos. Mantinha correspondência literária com Combefis, Neuhaus, Goar e todos os sábios daquela época, a mais fecunda para a ciência que já existiu. Todos lhe pediam consultas, e todos encontravam nele um conselho útil, um apoio eficaz, uma direção salutar. Algumas de suas cartas em grego ou latim são verdadeiros tratados, e quão agradáveis de ler! As horas que seus amigos ou correspondentes lhe deixavam, ele as usava para traduzir e explicar autores gregos de todos os tipos. Acumulava a cada dia novos materiais, pois nutria um vasto projeto que ninguém poderia realizar melhor que ele: reunir numa mesma coleção as obras de todos os escritores profanos e sagrados. A revista Byzantine do Louvre o conta entre seus editores. No entanto, o mundo romano e os trabalhos que ali realizava não o faziam esquecer sua pátria. O retorno à unidade da Igreja grega o preocupava constantemente. Ele abordava, um a um, em seus numerosos escritos, as grandes questões controversas entre Roma e Bizâncio, atenuando as divergências e, ao contrário, realçando os pontos comuns de crença e disciplina das duas Igrejas. Não satisfeito em trabalhar com a pena para essa aproximação, ele defendia essa nobre causa com a palavra; durante sua breve existência (1635-1640), a Academia Basiliana, uma espécie de Grécia ortodoxa em ação onde se discutiam os vários pontos de controvérsia greco-romana, não contava com membro mais assíduo nem mais ativo. Cf. P. Batiffol, A Abadia de Rossano, in-8º, 1891, p. 41. Custódio da Vaticana desde 1661, exerceu as funções até sua morte, isto é, até 18 de janeiro de 1669. E. Legrand publicou o testamento do ilustre erudito, Bibliografia helênica do século XVII, t. III, in-8º, Paris, 1895, p. 447-409.

Os papéis de Allatius, deixados por ele ao colégio grego, passaram para a biblioteca valliceliana, onde ainda se encontram. Eles formam cerca de 150 volumes manuscritos, dos quais apenas 91 estão classificados e catalogados. O seu exame forneceria, sem dúvida, muitas indicações curiosas sobre os assuntos em que Allatius esteve envolvido, ou sobre os autores bizantinos para os quais ele era particularmente competente. Talvez se encontrem aí várias de suas obras consideradas até agora perdidas. O padre Falzacappa elaborou para os 91 manuscritos classificados um índice, do qual A. Berthelot fez uma análise sumária, nas Archives des missions scientifiques et littéraires, 3ª série, t. XIII, in-8°, Paris, 1887, p. 850-854. Quanto à volumosa correspondência do nosso autor, ela permanece quase totalmente inédita.

“No século passado, um chiota, Raphaël Vernazza, tinha o plano de reuni-la e publicá-la. A morte, sem dúvida, o impediu de concluir essa louvável obra. Que outro seja mais feliz! Uma vez publicada essa correspondência, poderá se pensar em escrever uma biografia digna de Allatius, digna de seus eminentes mecenas, digna de seus amigos, digna, finalmente, do século em que viveu e onde ocupou lugar tão amplo.” E. Legrand, op. cit., t. III, p. 435.

O programa deste dicionário não menciona todas as obras de Allatius. Deliberadamente excluindo os escritos profanos, limitarei a citar, em ordem cronológica, aqueles que, entre essas obras, tratam diretamente de questões teológicas, ou tocam em pontos de história e arqueologia cristã, ou que por fim são úteis para consultar sobre a vida do ilustre escritor. Respeito naturalmente, na transcrição dos títulos, a ordem e ortografia das edições originais; omito somente o nome do autor. Indico também, para alguns deles, reimpressões de acesso mais fácil.

1º De Joanna Papissa Fabula Commentatio, in-4°, Roma, 1630; 2º Apes Urbanse sive de Viris illustribus, qui ab anno MDCXXX per totum MDCXXXIII, Roma estiveram e algo publicaram, in-8°, Roma, 1633; 3º De Psellis et eorum scriptis diatriba, in-8°, Roma, 1634, reproduzido com correções em A. Fabricius, Bibliotheca Greca, in-4°, Hamburgo, t. V, 1712; edição Harles, t. X, p. 41-97; P. G., t. CXXII, col. 477-538; 4º De etate et interstitiis in collatione ordinum etiam apud Grecos servandis, in-8°, Roma, 1638; 5º De libris ecclesiasticis Grecorum, Dissertationes duo, in-4°, Paris, 1645 e 1646, reproduzido na 1ª edição da Bibliotheca Greca de Fabricius, t. V; 6º De templis Graecorum recentioribus; De Narthece Ecclesi veteris; nec non de Grecorum hodie quorumdam opinionibus, in-8°, Colônia, 1645. Os dois primeiros pequenos textos tinham aparecido antes em apêndice ao tratado anterior, De libris ecclesiasticis Graecorum; 7º De Ecclesiae occidentalis atque orientalis perpetua consensione, libri tres, in-4°, Colônia, 1648. Obra fundamental para o estudo das relações entre as duas Igrejas; contém em apêndice duas dissertações: De Dominicis et hebdomadibus Grecorum e De missa presanctificatorum; 8º Diatriba de Georgiorum scriptis, publicada em apêndice à edição do Louvre de Georges Acropolite, in-fólio, Paris, 1651. Dissertação reimpressa por A. Fabricius, Bibliotheca Greca, Hamburgo, t. X; edição Harles, t. XI, p. 85-102; 8º Graeciae orthodoxae tomus primus, in-4°, Roma, 1652; tomus secundus, 1659. Trechos retirados dos escritores gregos favoráveis à união, reeditados por H. Limmer, in-8°, Friburgo em Brisgóvia, 1864; 9º Symmicta, sive opusculorum, Graecorum et Latinorum, Vetustiorum ac Recentiorum, Libri duo, in-8°, Colônia, 1653. Pode-se ver o título dos diferentes pequenos textos que esses dois livros contêm no índice dos dez livros dos Symmicta, publicado pelo próprio autor em 1668, e reproduzido por Fabricius, op. cit., t. XIV, p. 1-21, e E. Legrand, op. cit., t. II, p. 220-236; 10º De utriusque Ecclesiae occidentalis atque orientalis perpetua in dogmate de purgatorio consensione, in-8°, Roma, 1655; reimpresso por Migne, Theologie cursus completus, t. XVIII, in-4°, Paris, 1841, p. 365 e seguintes. A edição original contém ainda quatro pequenos textos, dos quais Migne reproduziu apenas o terceiro, o de Eustrate sobre a passagem das almas após a morte; 12º De processione Spiritus sancti enchiridion, in-12, Roma, 1658; 13º Symbolum magni Athanasii, in-12, Roma, 1659. Esses dois pequenos textos são redigidos em grego vulgar; 14º Librorum editorum elenchus, in-8°, Roma, 1659; 15º Joannes Henricus Hottingerus fraudis et imposturae manifesta convictus, in-8°, Roma, 1661; 16º Vindiciae synodi Ephesinae et S. Cyrilli de processione ex Patre et Filio Spiritus Sancti, in-8°, Roma, 1661; 17º De octava synodo Photiana, in-8°, Roma, 1662; 18º De Simeonum scriptis diatriba, in-4°, Paris, 1664; reproduzida por Fabricius, op. cit., t. X, p. 296 e seguintes; 19º In Roberti Creightoni apparatum, versionem et notas ad historiam conciliorum Florentini, in-4°, Roma, 1665; 20º Diatriba de Nilis, et eorum scriptis, em apêndice à edição das cartas de São Nil, in-fólio, Roma, 1668, reimpressa por Fabricius, op. cit., t. X, p. 20-35.

Outros pequenos textos semelhantes compostos por Allatius só foram publicados após sua morte. São eles:

21º De Nicetarum scriptis, publicado por Mai, Nova Patrum bibliotheca, t. VI b, p. 1-39; 22º De Philonibus, ibid., p. 40-71; 23º De Theodoris et eorum scriptis, ibid., p. 72-202.

Para a vida de Allatius, veja principalmente Etienne Gradi, Leonis Allatii vita (restou incompleta), publicada por Mai, Nova bibliotheca Patrum, t. VI, segunda parte, p. v-xxviii, e E. Legrand, Bibliographie hellénique du XVIe siècle, in-8°, t. III, Paris, 1895, p. 435-471.

Os dados de C. N. Sathas, Νεοελληνική φιλολογία, in-8°, Atenas, 1868, p. 268-274, são muito incompletos e frequentemente imprecisos. Quanto à biografia allatiana que está no livro do falso príncipe Demetrius Rhodokanakis, Leonis Allatii Hellas, Atenas, 1872, ela é, como todos os escritos de Rhodokanakis, um amontoado de detalhes apócrifos e não merece nenhuma confiança. Cf. E. Legrand, Dossier Rhodocanakis, in-8°, Paris, 1895, p. 100 e seguintes. A bibliografia já citada de E. Legrand contém uma descrição detalhada de todas as obras de Allatius.

L. Petit.