Alexandria, Igreja de



ALEXANDRIA (Igreja de)

A Igreja de Alexandria brilhou muito, mas não brilhou por muito tempo. Quem a considera do ponto de vista de sua relação com a história da teologia praticamente não precisa mais se ocupar dela após o fim do século VII.

Para refletir essa realidade, as páginas seguintes darão mais atenção às suas origens e ao período anterior à conquista árabe, passando rapidamente pelos tempos posteriores. Haverá uma breve menção às diversas confissões religiosas atualmente representadas no Egito. No entanto, a Igreja Copta e sua filha, a Igreja Abissínia, não serão abordadas aqui, pois serão tratadas separadamente.

A seguir, as divisões deste artigo:

I. Introdução do Cristianismo no Egito.

II. Missão de São Marcos.

III. Primeiros bispos.

IV. Sés sufragâneas de Alexandria.

V. Biblioteca e movimento científico.

VI. Heresias e cisma.

VII. Cálculo eclesiástico e liturgia.

VIII. Mártires e monges.

IX. Do Concílio de Niceia ao de Calcedônia.

X. Do Concílio de Calcedônia à conquista árabe.

XI. Da conquista árabe ao cisma de Fócio.

XII. Do cisma a Muhamad Ali.

XIII. Situação atual e títulos.

XIV. Igreja Latina de Alexandria.

XV. Número e diferentes confissões dos cristãos estabelecidos no Egito.

I. INTRODUÇÃO DO CRISTIANISMO NO EGITO

No início da nossa era, os judeus fizeram de Alexandria o centro mais importante, mais rico e mais intelectual da diáspora. Eles estavam espalhados por toda a Baixa-Égito e pela Cirenaica. (Philon, Adv. Flacc., VI; J. P. Thrige, Res Cyrenensium, in-8°, Copenhague, 1828, p. 219).

Foi por meio deles que o Cristianismo penetrou muito cedo nessas duas províncias. Simão, que ajudou o Salvador a carregar sua cruz, era originário de Cirene (Mateus 27, 32; Marcos 15, 21; Lucas 23, 26). Entre os que testemunharam os milagres de Pentecostes, havia pessoas vindas do Egito e da Cirenaica (Atos 2, 10).

As sinagogas dos Cireneus e dos Alexandrinos, em Jerusalém, tinham representantes entre aqueles que se opuseram ao diácono Estêvão (Atos 6, 9). Lúcio e vários dos primeiros evangelizadores de Antioquia eram cireneus que, ao que parece, estavam estabelecidos na cidade santa (Atos 11, 20; 13, 1).

Apolo, um dos mais fervorosos auxiliares dos apóstolos, pertencia à comunidade judaica de Alexandria (Atos 18, 24). Esses fatos e as estreitas relações que sugerem entre a Palestina e o nordeste da África não deixam dúvida de que essa última região recebeu a Boa Nova muito antes da pregação do evangelista São Marcos.

II. MISSÃO DE SÃO MARCOS

A São Marcos, no entanto, cabe a honra de ter fundado a Igreja Alexandrina.

A tradição tardia que apresenta o apóstolo Simão às margens do Nilo praticamente não tem valor histórico (Acta Sanctorum, t. XII Octobris, p. 424, 495). Já a que se refere ao discípulo predileto de São Pedro parece muito mais fundamentada.

Eusébio a registrou (Hist. Ecl., II, 16, P. G., t. XX, col. 173; Chronic., II, P. G., t. XIX, col. 539), e ela foi aceita por Santo Epifânio (Adv. her., her. LI, 6, P. G., t. XLI, col. 900), por São Jerônimo (De viris ill., VIII, P. L., t. XXIII, col. 621) e por todos os que vieram depois deles.

Segundo Epifânio e Jerônimo, Marcos recebeu sua missão do próprio príncipe dos apóstolos. Por esse motivo, a tradição cristã, bem interpretada por São Gregório Magno (Epist., l. VII, epist. XL, P. L., t. LXXVII, col. 899) e reforçada por Nicolau I (Responsa ad consulta Bulgarorum, P. L., t. CXIX, col. 976), sempre reconheceu fundações de São Pedro nas sedes primitivamente patriarcais, ou seja, nas sedes de Antioquia, Roma e Alexandria.

As datas atribuídas à chegada de São Marcos à África são muito contraditórias para serem mencionadas aqui. Seu itinerário também não é bem conhecido. Diz-se que o evangelista, ao partir de Roma, pregou primeiro na Cirenaica. Acrescenta-se até que essa província o viu novamente pouco antes de sua morte.

Embora essa passagem por Cirene não seja historicamente comprovada, sua possibilidade é plausível. Ela explica, muito melhor do que a posição geográfica, a jurisdição que a Sé Alexandrina exerceu constantemente sobre a Igreja Cireneia. Essa jurisdição não pode ter sido determinada pela situação política da época.

Unida a Creta, a Cirenaica formava, com esta, uma província administrada pelo Senado Romano, governada por um propretor com o título de procônsul. O Egito, ao contrário, era uma província imperial, ou melhor, um domínio da lista civil administrado em nome de César por um simples cavaleiro (J. Marquardt, Organisation de l’Empire romain, trad. fr. de P. Louis-Lucas et A. Weiss, 2 in-8°, Paris, 1889-1892, t. II, p. 405, 432).

Nessas condições, e apesar da proximidade geográfica, a Igreja de Cirene deveria ter se ligado, como a de Creta, ao Patriarcado do Ocidente. Se não o fez, foi porque, talvez, além da proximidade, razões religiosas prementes e origens cristãs comuns a conectavam a outro lugar.

III. PRIMEIROS BISPOS

No século IV, os cristãos de Alexandria veneravam as relíquias de seu primeiro pastor no leste da cidade, no bairro chamado Boukolia (Acta S. Petri Alex., P.G., t. XVIII, col. 461). Ali também repousavam os sucessores do evangelista mártir (op. cit., col. 462). Eusébio preservou seus nomes com datas de seus pontificados, ainda que impossíveis de verificar. Suas Crônicas (P.G., t. XIX, col. 543, 549, 551, 554, 555, 558, 559, 560, 561, 565) e sua História Eclesiástica (II, 24; III, 14, 21; IV, 1, 4, 5, 11, 19; V, 9, 22; P.G., t. XX, col. 205, 248, 249, 256, 303, 308, 309, 329, 377, 453, 489) permitem estabelecer a seguinte lista para os dois primeiros séculos: Annianus, Abilius, Cerdon, Primus, Justus, Eumenes, Marcus II, Celadion, Agrippinus e Julianus. Este último provavelmente morreu em 4 de março de 189. Os pontífices que o sucederam foram, na maioria, ilustres por vários motivos. Serão abordados, segundo Eusébio e outros autores, em artigos específicos ou no contexto da escola catequética e seus doutores, assim como no caso de Ário e sua heresia. Aqui, basta mencioná-los brevemente.

Demétrio, amigo e mais tarde adversário de Orígenes, parece ter ocupado a sé de São Marcos até 8 de outubro de 232, durante um episcopado de 43 anos. Elevou sua Igreja a tal esplendor que as de Antioquia e Éfeso ficaram ofuscadas. Héraclas continuou sua obra de 232 a 247 e manteve a mesma atitude em relação a Orígenes (Petia Interrog., IX, P.G., t. CIV, col. 1229).

Dionísio, cuja obra será estudada separadamente, atraiu os olhares de toda a cristandade por dezessete anos. Após ele, Máximo e Teonas brilharam, mas com menos intensidade – o primeiro de 265 a 282, o segundo de 282 a 300. Em seguida, veio São Pedro, que morreu pela fé em 311 ou 312, após um episcopado conturbado por perseguições, cismas e heresias. São Alexandre ocupou a sé de 313 até 17 de abril de 328. Seus esforços contra o arianismo, combatido no Egito e em Nicéia, preenchem as primeiras páginas da história dessa heresia.

IV. SÉS SUFRAGÂNEAS DE ALEXANDRIA

Em 328, quando o diácono Atanásio assumiu a sucessão de São Alexandre, o patriarcado de Alexandria, plenamente constituído, já estendia sua jurisdição sobre cerca de cem igrejas. Essa estrutura não era antiga. Até o século III, o Egito formava uma única diocese, cuja administração o bispo de Alexandria compartilhava com um colégio de doze sacerdotes instituído por São Marcos. Pelo menos, é isso que narram as Annales d’Eutychius.

Le Quien corrige Eutíquio quanto à qualidade dos doze coadjutores, transformando-os, com razão ou não, em bispos auxiliares. No entanto, ele aceita, em parte, o conteúdo do relato (Oriens Christianus, t. II, col. 316). Talvez essa afirmação deva ser limitada. De fato, na ausência de outras provas, a organização política do Egito daquela época fala fortemente a favor do historiador tardio.

O que impressiona nessa organização é a centralização administrativa excepcional imposta por Augusto. Em outras partes – na Itália e na maioria das províncias – o território era dividido em diversas uniões comunais e territórios urbanos administrados por assembleias e magistrados locais. Essas autonomias independentes funcionavam lado a lado, sob a supervisão da autoridade imperial.

No Egito, nada disso existia (Marquardt, op. cit., t. II, p. 409 e seg.). O antigo reino de Cleópatra formava um conjunto compacto, onde todas as partes se conectavam como engrenagens de uma máquina. Era dividido em epistratégias, cada epistratégia em nomes, cada nome em toparquias, cada toparquia em territórios e cada território em distritos.

O regime de liberdades comunais era desconhecido, exceto parcialmente em Alexandria e em três ou quatro cidades privilegiadas. Isso significa que o Egito não tinha verdadeiras cidades no sentido clássico.

Ora, foram as cidades – e apenas elas – que receberam bispos nos dois primeiros séculos. Assim, não é surpreendente que os territórios evangelizados por São Marcos tenham esperado até o pontificado de Demétrio para se dividirem em várias circunscrições episcopais. Com Demétrio, a situação às margens do Nilo começou a se assemelhar à da margem esquerda do Jordão e ao sul da Palestina.

A vila principal de cada território começou a desempenhar um papel importante. Sob o nome de metrópole, tornou-se quase rival da cidade e, como ela, recebeu seu próprio bispo. Essas considerações e esses fatos parecem sustentar as informações fornecidas por Eutíquio. Se não me engano, é preciso reconhecer nelas um fundo de verdade. Mas isso, evidentemente, se aplica apenas ao Egito.

A Cirenaica tinha uma organização totalmente diferente. Como indica seu nome de Pentápole, possuía cinco cidades notáveis — Cirene, Ptolemaida, Berenice, Apolônia e Arsinoé —, todas rapidamente convertidas em sedes episcopais. Isso é tudo o que se pode dizer sobre o início das igrejas sufragâneas de Alexandria.

Independentemente de sua origem, é certo que, no sínodo realizado contra Ário em 320 ou 321, São Alexandre conseguiu reunir quase cem bispos. Entre eles, apenas os da Cirenaica tinham um tipo de metropolitano. Todos os outros estavam diretamente subordinados ao patriarca de Alexandria, sem qualquer intermediário.

Com o tempo, sob a influência lenta, mas inevitável, das reformas administrativas introduzidas por Diocleciano e Teodósio, essa organização peculiar ao patriarcado de Alexandria se modificou. Os sufragâneos passaram a se agrupar, como em outros lugares, em diferentes províncias. Hoje, conhecemos 103 antigas sedes da Igreja egípcia-cirenáica: 41 patriarcais, 8 metropolitanas ou quase metropolitanas e 94 episcopais. Elas podem ser encontradas em Le Quien, Oriens Christianus, t. II, col. 385-640.

Aqui, limito-me a listar as 9 províncias com seus centros eclesiásticos e o número de dioceses simplesmente episcopais:

Egito I – Alexandria: 13 bispados, sem contar o que os eusébianos reunidos em Tiro, em 335, tentaram criar em Mareótis para favorecer Ischyras.

Egito II – Cabasa: 8 bispados.

Augusta I – Pelúsio: 13 bispados.

Augusta II – Leontópolis: 7 bispados.

Arcádia – Oxirrinco: 10 bispados.

Tebaida I – Antinoé: 8 bispados.

Tebaida II – Ptolemaida Hermii: 14 bispados.

Líbia I ou Pentápole – Ptolemaida: 14 bispados.

Líbia II ou Marmárica – Darnis: 7 bispados.

A suposta província da Líbia Metropolitana, incluída por Migne em seu Dicionário Geográfico (t. I, col. 818), nunca existiu, exceto em registros equivocados.

V. BIBLIOTECA E MOVIMENTO CIENTÍFICO

No Concílio de Niceia, pelo seu 6º cânon, a Igreja de São Marcos teve sua jurisdição solenemente confirmada (Pitra, Juris Eccles. Grecorum Hist. et Monumenta, in-4°, t. I, Roma, 1864, p. 429). Ela mereceu tal reconhecimento pelos serviços prestados, principalmente no campo científico. A causa principal, ainda que indireta, deve ser buscada na presença da famosa biblioteca.

Essa biblioteca tem uma longa história. Criada pelos primeiros Lágidas, foi severamente afetada durante a revolta do futuro Ptolemeu VII contra seu irmão, Ptolemeu VI. Depois, foi restaurada e ampliada por seus sucessores. Diz-se que, em seu auge, chegou a conter 700.000 volumes, divididos entre o Serapeu e o Museu. No entanto, quando este último monumento foi destruído no incêndio da frota egípcia por Júlio César, grande parte dos livros foi perdida.

Para reparar esse desastre, Marco Antônio ofereceu a Cleópatra todos os tesouros literários dos Atálidas. Duzentos e cinquenta anos depois, Caracala restaurou o edifício destruído. As coleções de Pérgamo e os depósitos do Serapeu ainda formavam uma biblioteca notável.

Infelizmente, essa coleção sem igual sofreu grandes perdas durante os conflitos entre o cristianismo triunfante e o paganismo derrotado. No tempo de Teodósio, o templo de Serápis era o principal bastião do politeísmo egípcio e o centro da resistência à política imperial. Foi incendiado, e quase todos os seus volumes pereceram com ele. Os manuscritos resgatados das cinzas ou preservados em outros lugares desapareceram definitivamente no século VII, durante a conquista muçulmana. Não se sabe exatamente como.

Segundo Abul Faraj, o general Amr ibn al-As, tenente do califa Omar, teria usado esses livros para aquecer os banhos da cidade. No entanto, essa afirmação de um historiador relativamente tardio é considerada por muitos como uma lenda, embora outros escritores árabes a tenham repetido.

Antes desses trágicos eventos, nos primeiros séculos da nossa era, a antiga biblioteca dos Ptolemeus ainda atraía estudiosos de todo o mundo. Graças a ela, Alexandria manteve-se como a capital das letras que outrora conquistara.

Estabelecida nessa cidade, no centro intelectual mais vibrante da época, saída do judaísmo mais culto e forçada a enfrentar o paganismo mais refinado, a Igreja de São Marcos tornou-se a rainha da ciência e das ideias entre as comunidades cristãs.

Em 325, o Concílio de Niceia reconheceu oficialmente essa supremacia. Embora tenha deixado à autoridade romana a responsabilidade de promulgar a data anual da Páscoa, encarregou o conhecimento alexandrino de calculá-la (Cyrille d’Alexandrie, Epist., LXXXVII, P.G., t. LXXVII, col. 385; Léon I, Epist., CXXI, P.L., t. LIV, col. 1056).

Mais do que esse fato, a superioridade intelectual de Alexandria é comprovada pelo grande número e renome dos homens que ofereceu à Igreja nos séculos III e IV. No entanto, não os citarei aqui, pois sua história pertence ao artigo sobre a Escola Cristã de Alexandria.

VI. HERESIAS E CISMAS

Antes de produzir escritores e pontífices ilustres, a Igreja de Marcos demonstrou sua vitalidade fecunda ao dar origem a múltiplas heresias. Isso não deve surpreender: os alexandrinos da época agitavam uma enorme massa de ideias, e todas as doutrinas, das mais sensatas às mais absurdas, passavam por eles e se transformavam. A gnose não poderia deixar de florescer ali: floresceu maravilhosamente. Cf. L. Duchesne, Les origines chrétiennes, litografia, Paris, p. 139-156. Foi em Alexandria que Basílides e Carpócrates doutrinaram sob Adriano; foi de Alexandria que Valentim partiu para Roma sob Antonino Pio. Foi também de lá que o papa Aniceto viu chegar Marcellina; foi lá igualmente que Apeles, forçado a deixar a Itália, foi buscar a sonâmbula Filomena e o Livro das Revelações. Não preciso enumerar os discípulos e emuladores desses hereges: eles estão mencionados no artigo GNOSE, junto com o resumo geral de suas doutrinas. Quanto aos detalhes de suas vidas ou particularidades de seus sistemas, é preciso buscá-los sob o nome de cada um deles.

Após o gnosticismo, que foi a chaga do século II, a Igreja de Alexandria foi abalada pela heresia antitrinitária de Sabélio. Esse homem nasceu na Líbia; os erros que ensinava em Roma sob o papa Zeferino (202-217) rapidamente se espalharam por sua terra natal. No meio do século, já haviam conquistado vários bispos da Pentápole. Athanase, Epistola de sententia Dionysii, 5, P. G., t. XXV, col. 485. Para trazê-los de volta, São Dionísio escreveu várias cartas, bem como um tratado em quatro livros. Eusébio, H. E., VII, 26, P. G., t. XX, col. 708. Sua ação não impediu o sabelianismo de se manter no Egito e ainda contar com numerosos adeptos no tempo de São Pedro. Os esforços de Santo Atanásio foram necessários para suprimi-lo. Ver SABELLIUS.

Não me detenho nos erros de Orígenes nem na heresia de Ário. Além das tempestades que elas provocaram serem posteriores, elas são importantes demais para não serem tratadas separadamente. Antes das divisões fatais que iriam causar, a Igreja egípcia teve de enfrentar o cisma de Melécio, bispo de Licópolis, que se rebelou contra São Pedro e não hesitou em instituir toda uma hierarquia paralela à legítima. Condenado em Niceia, Teodoreto, H. E., I, 8, P. G., t. LXXXII, col. 928, a seita originada de suas ordenações anticânonicas sobreviveu até depois de 450, para o grande benefício do arianismo, de que foi uma ardente aliada.

VII. CÁLCULO ECLESIÁSTICO E LITURGIA

Extremamente fecunda no domínio ainda muito vago da filosofia e da teologia, a Igreja alexandrina dos quatro primeiros séculos foi infinitamente menos produtiva no campo litúrgico. Ela desempenhou, é verdade, um papel brilhante na controvérsia pascal, como demonstram os textos antigos tão bem explorados por M. L. Duchesne, La question de la Pâque au concile de Nicée, na Revue des questions historiques, t. XXVII, 1880, p. 5. Mas aí se limitou sua ação: fora do cálculo eclesiástico, nada fez de importante em relação ao culto cristão. Na primeira metade do século IV, sua liturgia ainda era idêntica à da Síria. P. Batiffol, Une découverte liturgique, no Bulletin de littérature ecclésiastique, I, 1899, p. 81. Isso é confirmado pelo precioso documento revelado por A. Dmitrievski, L’euchologe de Sérapion de Thmuis, in-8°, Kiev, 1894, extraído dos Travaux de l’Académie de Kiev, 1894, n. 2, e recentemente republicado como inédito por G. Wobbermin, Altchristliche liturgische Stücke aus der Kirche Ägyptens nebst einem dogmatischen Brief des Bischofs Serapion von Thmuis, Leipzig, 1899.

A liturgia grega chamada de São Marcos, portanto, é posterior a essa época. M. Duchesne estima que remonta pelo menos ao século V. Origines du culte chrétien, 2ª edição, in-8°, Paris, 1898, p. 75. As analogias marcantes que ela apresenta com a liturgia copta, atribuída a São Cirilo, não contradizem essa opinião.

Ainda assim, entre os quatro principais tipos litúrgicos — o sírio, o romano, o galicano e o alexandrino —, este último ainda não existia na época do primeiro concílio ecumênico. Criada tardiamente, a missa de São Marcos não se manteve por muito tempo entre os gregos do Egito: primeiro sofreu modificações bizantinas, depois foi completamente substituída pelas missas em uso em Constantinopla. No final do século XII, Balsamon ordenou sua proibição. P. G., t. CXXXVIII, col. 953.

VIII. MÁRTIRES E MONGES

A Igreja alexandrina teve, como todas as outras, seus confessores e mártires.

Por volta de 195, o fogo, o ferro e a espada castigavam seus filhos. Clémente de Alexandria, Stromata, II, P. G., t. VIII, col. 1069. Em 202, Severo, de passagem por Alexandria, supervisionou pessoalmente a execução de seu édito: entre as vítimas, estavam Leônidas e vários dos que eram instruídos por seu filho Orígenes. Eusébio, H. E., VI, 1-5, P. G., t. XX, col. 521-533.

Em 249, sob o reinado benevolente de Filipe, uma revolta dos pagãos custou a vida da virgem Apolônia e de muitos fiéis. Eusébio, op. cit., VI, c. XLI, col. 605-612. Com Décio (250-253), a perseguição se estendeu até as aldeias mais remotas da Tebaida. Eusébio, op. cit., VI, c. XLI; XLII, l.VII, c. XI, col. 608-616, 661-673.

Os cristãos de Alexandria se vingaram sob Galo, durante uma peste, demonstrando sua caridade com heroísmo: por terem se dedicado aos cadáveres e moribundos, várias centenas deles se tornaram mártires de seu próprio zelo, e a Igreja os honra no dia 28 de fevereiro. Eusébio, op. cit., VII, c. XXII, col. 685-692.

Quando a epidemia desapareceu, a perseguição recomeçou. Eusébio, op. cit., VII, I, col. 640. Alguns anos depois, em 257, com o primeiro édito de Valeriano, as prisões ficaram abarrotadas de confessores e todos os caminhos do exílio foram percorridos por eles. Eusébio, op. cit., VII, c. XI, col. 662-674.

Em 304, Diocleciano publicou seu quarto édito, e rios de sangue correram pelo Egito, desde o mar até as fronteiras meridionais da Tebaida. Eusébio, op. cit., VIII, VIII-X, col. 757-760. O sangue voltou a correr em 306 e 307. Eusébio, op. cit., VIII, IX-X, col. 760-768. Ainda fluía em Canopo, no dia 31 de janeiro de 312, das veias de São Cir e São João. Acta Sanctorum, t. II jan., p. 1081.

Além dos fiéis sacrificados no Egito, a Igreja alexandrina teve muitos mártires imolados em outros lugares. Eusébio, op. cit., VIII, c. VI, col. 756. Teve, por exemplo, em Tiro. Eusébio, op. cit., VIII, c. VII, col. 756-757. Teve também em Cesareia. Eusébio, De martyribus Palestinae, XI, P. G., t. XX, col. 1497-1512.

Mas, sobretudo, teve em Agaune, onde um grupo inteiro de soldados recrutados no Alto Egito, mais tarde conhecidos como a Legião Tebana, pereceu no mesmo dia. Nada direi sobre Santa Catarina: se ela pertencesse à história, um dicionário de teologia deveria mencioná-la como uma das principais mártires alexandrinas, pois é venerada em certas ordens religiosas como padroeira dos estudos filosóficos e teológicos. Ver P. Allard, Histoire des persécutions, 5 volumes, passim.

O triunfo do cristianismo não pôs fim imediato ao massacre de cristãos no Egito. Houve mártires em Alexandria em 341 ou 342, sob o reinado de Constâncio e o governo de Filagre; São Galicano sofreu ali sob Juliano, em 362; os arianos ensanguentaram a Igreja de São Teonas em 372; os adoradores de Serápis fizeram novas vítimas em 390. Mas não são esses mártires que fazem a glória da cristandade egípcia. Sua principal glória vem de suas iniciativas monásticas e da multidão verdadeiramente prodigiosa de anacoretas e cenobitas que povoaram seus desertos.

As origens do monaquismo são mal conhecidas; um fato, porém, é certo: o entusiasmo pela vida perfeita explodiu primeiro às margens do Nilo. Essa vida assumiu várias formas: com São Paulo, teve a forma eremítica em toda sua grandeza selvagem; com São Pacômio, a forma cenobítica em toda sua harmonia e regularidade. Cf. P. Ladeuze, Étude sur le cénobitisme pakhomien, in-8°, Louvain, 1898.

Santo Antão (+356) serviu de elo entre as duas formas: eremita no início de sua jornada, não pôde impedir que discípulos acorressem a ele e formassem uma espécie de comunidade em Faium, na Tebaida. O nome de Tabennisi, o primeiro mosteiro, está ligado ao de Pacômio; Nitria, no Baixo Egito, abrigou as congregações fundadas por Amônio; Sceté se encheu de ascetas, entre os quais se destacam Macário, o Velho (+390), e Macário, o Jovem (+394).

As cristãs do Egito imitaram seus irmãos: o número de seus conventos foi considerável em todas as regiões ermas, e foi no copta, língua nativa, que surgiu um dos nomes mais comuns para elas, nonnes, que significa "castas".

Santa Sinclética está à frente dessas virgens e viúvas. Ver ANACORETAS, MONAQUISMO, ANTÃO etc.

IX. DO CONCÍLIO DE NICEIA AO DE CALCEDÔNIA

Os parágrafos anteriores nos levaram, ao seguirmos as liturgias, o martirológio e o monaquismo, bem além do ano 328. Voltemos atrás e retomemos a lista dos sucessores de São Marcos.

O primeiro a se destacar é Atanásio (328-373). Sua figura, que domina meio século, será apresentada ao leitor em um artigo especial. Nele, veremos as vicissitudes pelas quais passou a Igreja egípcia naquele tempo e como o poder civil se uniu ao arianismo para facilitar a quádrupla intrusão no trono alexandrino de Pistus, Gregório, Jorge e Lúcio. Os combates travados por Atanásio contra os imperadores e os prelados bajuladores foram as primeiras manifestações de uma rivalidade que, embora aparentasse ser apenas eclesiástica, era profundamente política. Essa rivalidade manteve Alexandria e Constantinopla em guerra aberta por muito tempo.

Quando Constantino surgiu, a supremacia religiosa no Oriente pertencia incontestavelmente a Alexandria. A fundação de uma nova capital no Bósforo ameaçou essa supremacia, que foi definitivamente comprometida quando Teodósio I, renunciando aos palácios de Nicomédia e Antioquia, fixou a corte de maneira efetiva e permanente em Constantinopla. Essa supremacia caiu por completo quando o exemplo de Arcádio e Teodósio II, que jamais lideraram legiões, permitiu que os primeiros príncipes bizantinos permanecessem enclausurados em sua cidade imperial, ocupando seus vastos períodos de lazer com discussões teológicas.

Os bispos de Alexandria resistiram bravamente contra seus rivais do Bósforo. Pedro II (373 – 4 de fevereiro de 381) imitou seu predecessor Atanásio: lutou, como ele, contra Valente e também buscou refúgio em Roma. Seu último ato foi reafirmar as prerrogativas alexandrinas, intervindo, sob Teodósio I, nos assuntos eclesiásticos de Constantinopla. Seu irmão Timóteo o sucedeu. Ele apoiou Máximo, o Cínico, contra Gregório de Nazianzo e aproveitou o II Concílio Ecumênico para levar à retirada do santo doutor. Atribuem-se a Timóteo 63 respostas canônicas. (Pitra, Juris eccl. Grec. hist. et mon., t. I, p. 630-645).

Teófilo (395 – 15 de outubro de 412), Cirilo (412 – 28 de junho de 444) e Dióscoro (444-451) presenciaram os últimos grandes dias do cristianismo egípcio. Os três serão objeto de estudos específicos, mas devo registrar aqui os triunfos — ora gloriosos, ora lamentáveis — que Alexandria obteve sobre Constantinopla por meio deles.

Teófilo ordenou João Crisóstomo em 398 e o depôs no Concílio do Carvalho em 403. Cirilo presidiu, em 431, o Concílio Ecumênico de Éfeso, que lançou o anátema sobre Nestório. Dióscoro dirigiu, em 449, o chamado "Latrocínio de Éfeso", em favor de Êutiques e contra Flaviano. Essa vitória, no entanto, não teve continuidade. Em 451, os Padres de Calcedônia, além de condenarem Dióscoro e o monofisismo, elevaram o bispo da cidade imperial acima de todos os seus colegas orientais.

A partir desse dia, o fosso que separava Alexandria de Constantinopla tornou-se um abismo. Furiosos contra um concílio cujo 28º cânon retirava a preeminência de sua Igreja, e ressentidos com a autoridade imperial que havia convocado e apoiado esse concílio, os cristãos do Nilo não encontraram outra maneira de manifestar seu descontentamento senão abraçando em massa a heresia condenada.

Tornaram-se monofisitas e se proclamaram "coptas", ou seja, egípcios do Egito.

Aos gregos — funcionários ou comerciantes — que permaneceram em seu solo fiéis ao dogma católico, deram o apelido de "melquitas", que significa imperiais.

X. DO CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA À CONQUISTA ÁRABE

Esses eventos deram um golpe fatal à segunda sé de Cristandade. Sob Teófilo e Cirilo, seu titular desfrutava de um poder quase ilimitado nos assuntos eclesiásticos e até civis. Verdadeiro faraó do Egito cristão, ele mantinha todos os bispos sob seu domínio e fazia tremer todos os governadores.

A partir de então, ficaria sem prestígio e sem influência, ora exilado pelo poder, ora expulso pela população, vítima dos caprichos imperiais e joguete dos tumultos populares. Se professasse a ortodoxia, teria apenas um rebanho ínfimo e só conseguiria se manter com o apoio da guarnição militar. Se defendesse o monofisismo, seria seguido pela maioria dos egípcios, mas quatro quintos do mundo cristão recusariam qualquer comunhão com ele. Em qualquer dos casos, viveria miseravelmente.

De fato, nada é mais miserável, nada inspira mais piedade do que a dupla sucessão dos pastores alexandrinos. No início, essa sucessão frequentemente se rompe. Do lado dos coptas, quando um imperador mais ortodoxo e enérgico decide impor sua autoridade às margens do Nilo. Do lado dos gregos, quando o prefeito bizantino não consegue resistir à população de Alexandria ou quando o próprio príncipe tem preferências declaradas pelos hereges. Às vezes, em vez de unificada, a sucessão se triplica. Foi o caso sob Justiniano II (565-578): após uma divisão dentro do campo monofisita, o prelado católico se viu diante de dois concorrentes, um gaianita e outro teodosiano.

Além disso, ou quase sempre, os elos dessa sucessão não foram muito brilhantes. De todo modo, são numerosos demais para serem enumerados aqui. Falo dos gregos, sem me ocupar dos coptas. Mesmo que tivessem virtudes heroicas, os prelados gregos não poderiam trazer de volta à ortodoxia uma província onde tudo os tornava perfeitamente detestáveis. Nomeados e sustentados pelo imperador, compartilhavam do ódio que sua autoridade inspirava em todo o Egito.

Consagrados pelo bispo de Constantinopla — como aconteceu com Paulo, sob Justiniano I, e com João, sob Justiniano II —, reconheciam, assim, a decadência de sua sé e reavivavam os antigos ressentimentos do Egito contra o concílio cujo 28º cânon havia sancionado a supremacia eclesiástica da cidade imperial.

Além disso, as oscilações da corte bastavam para desacreditar seus protegidos. Ora católica, ora monofisita, às vezes monofisita de uma forma, às vezes de outra, a corte tomou partido em todas as disputas religiosas ligadas ao eutiquianismo ou que surgiram paralelamente a ele. Desempenhou seu papel mutável e contraditório nos intermináveis debates sobre o origenismo e os "três capítulos", assim como na grave questão do monotelismo.

Essas constantes mudanças, refletidas na sé greco-alexandrina por reviravoltas doutrinárias, deposições e exílios, colocaram o sucessor de São Marcos em péssima posição diante de seus fiéis rebeldes. Para eles, ele não passava de um instrumento, mais ou menos submisso, de um poder desprezado.

De fato, Constantinopla lhes enviou, de tempos em tempos, pastores irrepreensíveis, mas em vão. As aspirações nacionais e as rivalidades étnicas mantinham o Egito preso à sua heresia. Nada conseguiu arrancá-lo dela, nem o sangue de Proterius (+457), nem os esforços de Eulógio (581-608), nem a caridade de João, o Esmoleiro (606-616).

Sob Heráclio, na véspera da conquista muçulmana, a Igreja grega de Alexandria contava apenas com 200.000 fiéis, quase todos recrutados entre funcionários, soldados e comerciantes — ou seja, entre estrangeiros no país. A Igreja copta, ao contrário, reunia de 5 a 6 milhões de almas, praticamente toda a população nativa.

XI. DA CONQUISTA ÁRABE AO CISMA FOCIANO

Em 638, os coptas acolheram os árabes como libertadores. Foram ao encontro de Amr ibn al-As, felizes por lhe entregar todo o vale do Nilo, e frustrados por não poderem abrir-lhe as portas de Alexandria, onde o elemento grego e as tropas imperiais haviam se concentrado. Essa diferença entre a atitude dos monofisitas e a de seus adversários influenciou a política dos conquistadores. Como era de se esperar, os árabes reservaram todas as suas favores àqueles que os favoreceram e toda sua severidade àqueles que os combateram.

Enquanto o patriarca monofisita Benjamim obteve uma posição privilegiada e transmitiu a seus sucessores uma autoridade reconhecida pelos vitoriosos, a Igreja de seus rivais quase desapareceu. Um certo Pedro conseguiu, de fato, tomar o lugar de Ciro, patriarca melquita contemporâneo da invasão, mas ele próprio não teve sucessor, e a sé grega de Alexandria, que havia se tornado monotelita com seus dois últimos ocupantes, permaneceu sem titular por quase um século.

Seus fiéis, drasticamente reduzidos pela fuga, não tiveram outros pastores além de simples bispos submetidos ao metropolita de Tiro ou, mais precisamente, consagrados em Tiro. Quanto às suas igrejas, quase todas passaram para as mãos de seus inimigos, que as transformaram em mesquitas muçulmanas ou templos eutiquianos.

A tempestade se acalmou sob o califado de Hisham (724-743). Esse governante autorizou a reorganização da Igreja antimofisita e aceitou como patriarca um artesão chamado Cosme, que não sabia ler nem escrever, mas cuja grande astúcia compensava sua ignorância. Cosme dirigiu-se à corte dos Omíadas, em Damasco, onde conquistou o favor de alguns secretários e, por meio deles, obteve que a comunidade ortodoxa recuperasse as igrejas das quais os coptas a haviam despojado.

O médico Politianos foi o segundo patriarca dessa restauração. Chamado à capital dos Abássidas, em Bagdá, para atender uma concubina favorita de Harun al-Rashid, curou-a de uma enfermidade fingida, segundo dizem, e recebeu, entre outras recompensas, cartas que lhe permitiram recuperar mais igrejas. Comprar os favoritos e secretários do príncipe, intrigar através das cristãs do harém — essa foi a principal ocupação dos prelados que sucederam Cosme e Politianos. As dificuldades da situação os desculpam: era necessário manter-se a todo custo, conter o aumento de impostos, proteger os edifícios de culto e resistir tanto ao ódio dos monofisitas quanto ao fanatismo dos muçulmanos.

Esse fanatismo, de fato, não tardou a se manifestar de maneira brutal. Aos dias de tolerância que marcaram o primeiro século da dominação árabe, seguiram-se, mesmo para os coptas, tempos de perseguição.

Esse endurecimento pode ser explicado pelas transformações políticas que o Egito atravessou. De 640 a 870, esteve sob o domínio dos califas; de 870 a 905, dos sultões tulúnidas, uma dinastia local originada de um escravo turco; de 905 a 934, voltou ao controle dos Abássidas, como antes de 870; de 934 a 969, foi governado pelos sultões ikhchididas, a segunda dinastia turca; de 969 a 1171, caiu nas mãos dos fatímidas de Cairuão; de 1171 a 1250, sob o domínio da dinastia aiúbida, fundada pelo famoso Iúçufe Salah ad-Din, ou Saladino; de 1250 a 1382, passou para os mamelucos baharitas ou marítimos; de 1382 a 1517, aos mamelucos bordjitas ou circassianos.

Em 1517, tornou-se uma província do Império Otomano e permaneceu sob seu domínio, ao menos em parte, até o século XIX. Com tantas mudanças de governo, estabelecidos ora pela conquista, ora pela revolta ou usurpação, não é difícil entender por que a política liberal adotada inicialmente pelos sucessores diretos de Maomé foi abandonada.

Se os monofisitas sofreram tanto a ponto de apostatarem em massa e se alistarem nos batalhões do Islã, os melquitas também não tiveram motivos para se alegrar. Seu número diminuiu constantemente, mergulharam em uma profunda ignorância e foram submetidos a leis discriminatórias. Os Abássidas os obrigaram a usar vestimentas que impediam qualquer confusão com os muçulmanos, mas não permitiram que abrissem escolas para preservar sua língua distinta da de seus opressores.

O árabe nunca penetrou em sua liturgia, mas, no uso cotidiano, substituiu o grego em seus lábios. O patriarca Cristóvão (805-836) ainda pregava no idioma de Santo Atanásio. Mas, um século depois, Eutíquio (933-940) escreveu suas "Anais" em árabe. Essa obra testemunha uma decadência intelectual alarmante. Suas múltiplas imprecisões mostram que o autor não teve acesso a documentos antigos. Suas listas episcopais, que param em São Agatão (670-681) para Roma e chegam a Teódoto Cassitéras (815-821) para Constantinopla, indicam que as relações entre o Egito e a Cristandade ocidental eram então escassas e difíceis.

De fato, sabe-se por outras fontes que as trocas entre os dois mundos se limitavam ao comércio. Veneza aproveitou essa situação, no início do século IX, para roubar o corpo de São Marcos.

Com o patriarcado ecumênico, Alexandria manteve relações mais estáveis e frequentes. Essas relações se intensificaram especialmente quando Bizâncio, enfraquecida, deixou de inspirar medo no Cairo. Mas já existiam antes desse período e tiveram como consequência fatal o envolvimento dos melquitas no Cisma de Fócio.

XII. DO CISMA A MUHAMAD ALI.

Uma vez desviado, o patriarca alexandrino geralmente seguiu a mesma linha de conduta que seu colega do Bósforo. Ele quase sempre se contentou em ratificar depois as decisões tomadas por este, desde que fossem hostis a Roma. A Igreja de Alexandria não teve nenhum papel nas tentativas de união que ocuparam por um instante o sínodo de Niceia (1234) e os dois concílios gerais de Lyon (1245 e 1274). Mas seu patriarca, Atanásio III, interveio em Constantinopla em 1283 para condenar João Beccos, considerado muito favorável aos latinos.

A Igreja alexandrina também permaneceu alheia às iniciativas junto aos Padres de Constança (1418) e de Basileia (1434-1437). Foi necessário que o imperador João VII Paleólogo a convidasse duas vezes (1436 e 1437) para que seu patriarca Filoteu confiasse a dois prelados bizantinos, Antônio, metropolita de Heracleia, e Gregório Mammas, protossincelo de Constantinopla, a tarefa de representá-lo nas assembleias de Ferrara (1438) e Florença (1439). Isso, no entanto, não impediu esse mesmo Filoteu de participar, em 1450, de um dos sínodos bizantinos que aboliram a união. Dois de seus predecessores, por exceção, mostraram-se muito mais favoráveis a Roma: um deles, Nicolau I, recebeu em 1210 uma carta altamente elogiosa do papa Inocêncio III e, treze anos depois, ele próprio escreveu em excelentes termos a Honório III; o outro, Nifão, dirigiu-se a Urbano V, que lhe respondeu em 1367.

A adesão de Alexandria ao cisma também se explica por suas relações com os patriarcados de Antioquia e Jerusalém, relações fáceis e frequentes, sobretudo durante os períodos relativamente longos em que a Síria pertenceu aos mesmos senhores que o Egito. Esses vínculos sobreviveram às brilhantes campanhas que Nicéforo Focas (963-969) e João Tzimiscés (969-976) dirigiram contra o Oriente árabe, assim como à grande luta das cruzadas. Um testemunho disso é o trabalho canônico elaborado por Teodoro Balsamon, patriarca de Antioquia, em resposta às sessenta e quatro questões que o patriarca Marcos, de Alexandria, lhe submeteu em fevereiro de 1195 (P.G., t. CXXXVIII, col. 951-1012). As perguntas do prelado alexandrino lançam certa luz sobre a situação de sua Igreja. Extremamente reduzida (col. 993), ela vegetava em meio aos infiéis, ou seja, os sarracenos, que se misturavam a judeus (col. 994), e em meio aos hereges, ou seja, os coptas, que se misturavam a latinos, armênios, nestorianos e, sobretudo, monotelitas (col. 981, 985). Havia fiéis que pretendiam escolher sozinhos seus bispos, padres e diáconos (col. 989, 1007); conventos onde as superioras queriam confessar elas mesmas suas religiosas (col. 985); um patriarca cujas perguntas às vezes revelavam uma ignorância extrema.

Tal era a situação no final do século XII. Cerca de oitenta anos depois, a brutalidade dos muçulmanos atingia em cheio os cristãos. Essa perseguição, é preciso reconhecer, pesou indistintamente sobre todas as confissões representadas no Egito, mas foi particularmente prejudicial à sé grega de São Marcos.

Ela a rebaixou ainda mais, arruinou-a. Um de seus titulares, Atanásio III, foi obrigado a passar mais de trinta anos, de 1276 a 1308, em terras do Império Bizantino. Outros fizeram viagens prolongadas ou rápidas aparições para solicitar esmolas e ajuda. Uma situação tão precária permitiu ao patriarcado ecumênico estender sua influência até as margens do Nilo e imiscuir-se nos assuntos eclesiásticos dos poucos ortodoxos que ainda restavam ali. Ele o fez já no final do século XIV, por volta de 1395, em relação a uma eleição (Miklosich e Müller, Acta et diplomata graeca medii aevi, Viena, t. II, 1862, p. 273-274). Ele o fez ainda mais depois da tomada de Constantinopla por Maomé II (1453) e, mais ainda, após a conquista do Egito por Selim I (1517).

A partir dessa última data, a Igreja greco-alexandrina deixou de ter relevância. No tempo dos mamelucos, seus patriarcas foram várias vezes obrigados a permanecer no Cairo Antigo, sob a vigilância do governante. Agora que o poder passou para Constantinopla, eles se veem forçados a frequentar a nova capital e a se curvar frequentemente diante do novo senhor. Hospedados pelo clero fanariota, do qual quase sempre são escolhidos, eles nem sequer cogitam insurgir-se contra a proteção excessiva e humilhante que o chefe desse clero lhes impõe.

Pastores sem rebanho, eles ocupam seus dias, de perto ou de longe, com intrigas para provocar a queda do patriarca ecumênico, sentindo-se afortunados se conseguirem nomear seu sucessor e ainda mais se conseguirem herdar sua posição. Isso raramente acontece. No entanto, ocorreu com Melecio Pigas, que governou a Igreja de Constantinopla como locum tenens por cerca de vinte meses, de abril de 1597 aos primeiros dias de 1599. Também aconteceu com seu sobrinho Cirilo I Lúcario, que, cinco vezes deposto ou renunciante e cinco vezes restabelecido, subiu seis vezes diferentes ao trono ecumênico entre 1612 e 1638. Ocorreu ainda com Cosme III, cujo pontificado em Constantinopla (1714-1716) se intercala entre dois pontificados alexandrinos.

Dois dos três prelados que acabei de mencionar, Pigas e Lúcario, são os únicos patriarcas de Alexandria que se destacaram nesses últimos séculos. Sobre o primeiro e sua influência no mundo ortodoxo, pode-se consultar a monografia, infelizmente pouco crítica, de Ivan Maluchevski, Meletius Pigas, patriarca de Alexandria (em russo), Kiev, 1872. Sobre o segundo e suas relações com o protestantismo, ver Lúcario.

XIII. SITUAÇÃO ATUAL E TÍTULOS

Sabe-se como, de 1806 a 1849, a poderosa vontade de Muhammad Ali criou o Egito moderno. Quando Muhammad começou sua obra, a sé grega de Alexandria arrastava-se em uma situação desesperadora. Seus titulares, nomeados pelas autoridades religiosas de Constantinopla, haviam fixado residência nessa cidade. Seus raros fiéis eram entregues aos cuidados, ou melhor, às exações de um arquimandrita enviado pelo Fanar. O paxá reformador não tolerou esse estado de coisas, contrário às suas visões políticas. Fez esforço para mudá-lo e conseguiu.

Em 1846, com a morte de Hieroteu I, enquanto o patriarcado ecumênico apressava-se em atribuir a sé alexandrina ao fanariota Artêmio, metropolita de Kustendil, os ortodoxos do Egito, obedientes ao vice-rei, ousaram realizar eles mesmos uma eleição. Foi um homem de sua escolha, Hieroteu II, que recebeu o apoio da diplomacia russa e o reconhecimento do governo turco. O Fanar, derrotado, decidiu vingar-se.

Em 1856, com a morte de Hieroteu II e a eleição de Calínico II, o momento lhe pareceu propício. Dois grupos disputavam então o controle dos assuntos da comunidade ortodoxa egípcia, e duas comissões recém-instituídas iniciavam seus trabalhos declarando guerra entre si. De um lado, com a comissão do Cairo, estavam os ortodoxos solidamente estabelecidos no Egito, dispostos, por isso, a identificar seus interesses com os do país. Do outro, com a comissão de Alexandria, estavam os estrangeiros acostumados a manter os olhos voltados para Constantinopla ou Atenas, sempre prontos a recorrer ao consulado geral do Reino Helênico.

Nessas condições, nada era mais fácil para o Fanar do que criar dificuldades para o patriarca alexandrino escolhido contra sua vontade. E não deixou de fazê-lo. Os distúrbios provocados por suas manobras em Constantinopla, São Petersburgo, Atenas, Alexandria e Cairo se estenderam por um quarto de século, perturbando três patriarcados sucessivos: o de Calínico I (1856-1858), o de Tiago (1858-1866) e o de Nicanor (1866-1870). Para mais detalhes, ver O. Schneider, Beiträge zur Kenntnis der griechisch-orthodoxen Kirche Ägyptens, Dresden, 1874.

Com a morte de Calínico, intermináveis debates levaram à primeira intervenção de Constantinopla. Com a morte de Nicanor, a rivalidade entre os dois arquimandritas Eugênio e Nil, e as violentas disputas entre seus respectivos grupos, obrigaram a recorrer novamente ao instigador de todos esses conflitos, ou seja, ao Fanar. Este indicou para a sé de Alexandria um ancião chamado Sofrônio, que havia iniciado sua carreira em 1839 como metropolita de Quios e ocupado o trono ecumênico de 1863 a 1866.

Mons. Sofrônio faleceu em 1899, aos 105 anos, após ter restaurado a paz e submetido o partido indígena ao jugo dos gregos. Durante o verão, sua residência favorita era a ilha de Léros. Seus dois predecessores passavam o inverno no Cairo, no bairro de Hamsaoui, e o verão em Alexandria, no mosteiro anexo à igreja de São Sabas, mencionada pela história desde o ano 720.

Nada é menos determinado do que a residência dos quatro prelados que, conforme as decisões tomadas em 1867, formam o Santo Sínodo Patriarcal de Alexandria. Metropolitas honorários de Pelúsio, da Tebaida, da Pentápole e da Líbia, esses quatro prelados não têm dioceses para governar e vivem ora de um lado, ora de outro. Cairo, Alexandria e Porto Said são as cidades onde costumam residir. Um deles, o da Pentápole, dirige em Atenas uma espécie de grande seminário conhecido como Escola Rizeios ou Rizeion.

O patriarca grego de Alexandria recebe o título de "beatitude". As saudações litúrgicas oficiais o proclamam: "Pai e pastor, papa e patriarca da grande cidade de Alexandria, da Líbia, da Pentápole, da Etiópia e de toda a terra do Egito, pai dos pais, pastor dos pastores, décimo terceiro apóstolo e juiz do universo."

Dentre esses títulos, o último não é o menos curioso. Segundo alguns autores, remonta ao ano 431 e teria sido uma recompensa concedida a São Cirilo pelo papel que desempenhou no terceiro concílio. Segundo outros, teria sua origem na sentença proferida no século XI por Teófilo de Alexandria a respeito de uma disputa entre o imperador Basílio II, o Bulgaróctono (976-1025), e o patriarca de Constantinopla, Sérgio II (999-1019). Esse fato, relatado pelo grande logóteta Epifânio, foi incluído por Dositeu em sua História dos Patriarcas de Jerusalém (em grego), vol. VII, cap. XIX, §9, Bucareste, 1715, p. 746, mas não pode ser aceito cegamente.

A única certeza é que a jurisdição universal dos patriarcas de Alexandria aparece pela primeira vez em seu título no século XVI. Em um discurso de São Gregório de Nazianzo, São Atanásio é chamado de "luz do universo", mas não de "juiz", "pontífice dos sacerdotes", mas não de "pastor dos pastores" (Oratio XXV, In laudem Heronis, PG, vol. XXXV, col. 1113).

Em uma carta de autenticidade duvidosa de Nectário a São Cirilo, o famoso Teófilo é proclamado "igual aos apóstolos", mas não "décimo terceiro apóstolo" (Nicephorus Callistus, Hist. eccl., XIV, 26, PG, vol. CXLVI, col. 1137).

A jurisdição efetiva do patriarca alexandrino é menos extensa que sua judicatura honorária. Ao norte, é limitada pelo Mediterrâneo; a oeste, mal se impõe à comunidade grega de Túnis, que preferiria estar sob Constantinopla; ao sul, além do Cairo, conta apenas com duas ou três centenas de comerciantes ao longo do Nilo; a leste, termina no deserto e no mar Vermelho, deixando a península do Sinai formar um arcebispado independente. De ambos os lados, isto é, na Núbia e nas costas da Eritreia, o patriarcado grego de Alexandria nunca exerceu grande influência. Os primeiros apóstolos dessas regiões foram quase todos bizantinos, sírios ou monofisitas. O que restou de sua obra após as perseguições judaico-árabes fundiu-se com a Igreja Copta. Cf. L. Duchesne, Églises séparées, cap. VII, Paris, 1896, p. 281-353.

XIV. IGREJA LATINA DE ALEXANDRIA.

Alexandria tornou-se sede nominal de um patriarca latino já no início do século XI. O catálogo de seus titulares, apresentado por Le Quien em Oriens Christianus (vol. III, col. 1143) e ampliado por Gams em Series Episcoporum (p. 466), pode ser complementado com Trésor de chronologie de Mas-Latrie (col. 2201) e Hierarchia catholica medii ævi de C. Eubel (Münster, 1898, p. 81). No século XIV, o patriarca latino de Alexandria tinha, entre outras dioceses sufragâneas, a de Damieta, supostamente fundada por São Luís, a de Hipona, ligada a Santo Agostinho, e a de Galaad ou Kala‘at, sem relação com a terra palestina de Galaad. Cf. C. Eubel, op. cit., p. 230, 269, 288, 582.

Neste século, em 26 de agosto de 1859, o patriarcado latino de Alexandria foi elevado à categoria de patriarcado residencial, mas essa situação durou poucos anos, encerrando-se em 1866. Hoje, a Igreja Católica Latina no Egito é representada por um vicariato e uma delegação apostólica, estabelecidos pela primeira vez em 28 de maio de 1839. Inicialmente, esse vicariato abrangia a Alta e a Baixa Egito, além da Arábia, mas desde então sofreu diversos desmembramentos.

Desde 25 de abril de 1888, a Arábia, erigida em vicariato independente com sede em Áden, não está mais sob o vigário apostólico, mas apenas sob o delegado de Alexandria. No Egito propriamente dito, o Delta do Nilo, elevado a prefeitura apostólica em 1885, tornou-se independente do vicariato do Egito em 14 de maio de 1891. Finalmente, em 1894, o vicariato do Sudão, cuja fronteira norte era a terceira catarata, estendeu-se até Assuã. Restam, portanto, ao vicariato de Alexandria apenas a Alta Egito e a missão da Baixa Egito.

A administração é confiada aos Frades Menores, enquanto a prefeitura do Delta pertence à ramificação lionense das Missões da África, e o vicariato do Sudão, ao Instituto de Verona para as Missões entre os Negros. O vigário apostólico de Alexandria, delegado da Santa Sé para o Egito e a Arábia, tem residência oficial em Alexandria; o prefeito do Delta, no Cairo; e o vigário apostólico do Sudão, em Assuã.

Os católicos latinos no Egito, cerca de 57.000, são em sua maioria estrangeiros. Os jovens recebem educação liberal e cristã em quatro colégios prósperos: um dos jesuítas em Alexandria e três dirigidos pelos Irmãos das Escolas Cristãs em Alexandria, Cairo e Ramle. Os internatos femininos são ainda mais numerosos. Em Alexandria, há pelo menos quatro, dirigidos pelas Filhas da Caridade, Terciárias de São Francisco, Irmãs da Mãe de Deus e Irmãs de São Carlos Borromeu. O Cairo tem dois, administrados pelas Terciárias de São Francisco e pelas Irmãs da Mãe de Deus. O de Porto Said pertence às Irmãs do Bom Pastor e o de Ramle, às Damas de Sion.

Sem manter colégios, os lazaristas e os salesianos de Turim estabeleceram missões no Egito. Cf. Missiones catholicæ, in-8º, Roma, 1897, p. 827-833.

XV. NÚMERO E DIFERENTES CONFISSÕES RELIGIOSAS DOS CRISTÃOS ESTABELECIDOS NO EGITO.

Os coptas, gregos ortodoxos e latinos não são os únicos cristãos do Egito. Pode-se dizer que todas as Igrejas Orientais têm representantes no país. Fornecer números exatos para cada confissão é impossível. Para estatísticas, o melhor é recorrer às informações gerais publicadas após o censo de 1897.

Na época, o Egito, entre o Mediterrâneo e Wadi Halfa, tinha uma população total de 9.734.405 habitantes, sendo 9.621.879 egípcios e 112.526 estrangeiros. Estes se dividiam por nacionalidade da seguinte forma: Gregos, 38.175; Italianos, 24.467; Ingleses, 19.557; Franceses, 14.155; Austro-húngaros, 7.117; Russos, 3.193; Persas, 1.301; Alemães, 1.277; Espanhóis, 765; Suíços, 472; Americanos dos EUA, 291; Belgas, 265; Holandeses, 247; Portugueses, 151; Suecos e noruegueses, 107; Dinamarqueses, 79; outros, 914.

A população total de 9.734.405 habitantes dividia-se, religiosamente, em 8.978.775 muçulmanos, 730.162 cristãos, 25.200 judeus e 268 outros. Dentro dos 730.162 cristãos, coptas monofisitas, católicos e protestantes somavam 608.446 indivíduos. O restante dos cristãos, não coptas, totalizava apenas 121.716 almas, das quais cerca de 100.000 eram estrangeiras e apenas 20.000 egípcias.

Esse número relativamente pequeno, de aproximadamente 120.000 ou, hoje, 125.000 pessoas, é dividido entre várias confissões estabelecidas no Egito: latinos, protestantes, gregos ortodoxos, gregos católicos, armênios unidos, armênios gregorianos, maronitas, sírios unidos, caldeus unidos, entre outros.

1° Latinos. — Para completar o que foi dito acima, basta acrescentar que os latinos do Egito pertencem quase todos, por origem e nacionalidade, à Itália, à França e à Áustria-Hungria. A Grã-Bretanha também merece ser citada depois dessas três potências por causa dos irlandeses que dominam entre as tropas da guarnição.

2° Protestantes. — Como em toda parte, os protestantes no Egito se dividem em uma infinidade de seitas. Suas obras de apostolado, estéreis entre os muçulmanos, visam sobretudo os coptas. Esse tema será abordado neste dicionário ao tratar dos coptas. Enquanto isso, pode-se consultar a Realencyklopädie für protestantische Theologie und Kirche, no verbete EGITO, t. I, 1896, p. 219-220.

3° Gregos ortodoxos. — O patriarcado grego, cuja história resumimos, praticamente já não tem fiéis egípcios: suas ovelhas vêm todas da Grécia, da Turquia ou da Rússia.

4° Gregos católicos. — O título de melquitas, aplicado pelos monofisitas aos partidários do Concílio de Calcedônia, tornou-se com o tempo a denominação distintiva dos gregos unidos a Roma. Estes últimos, na verdade, não têm nada de grego, exceto o rito, e ainda assim preferem empregar o árabe em seus ofícios. Herdando o patriarcado grego de Antioquia, eles formam uma Igreja importante nos países de língua árabe. Seu líder, patriarca de Antioquia, Alexandria e Jerusalém, reside em Damasco, capital da província da Síria. É à Síria que pertencem, por origem, quase todos os melquitas do Egito. Eles têm uma igreja em Alexandria, três no Cairo e cerca de dez em outros locais. Um bispo residente em Alexandria os governa em nome do patriarca, com o título de vigário patriarcal.

5° Armênios. — Os armênios nunca foram numerosos no Egito, mas neste século gozaram de grande influência graças às suas notáveis aptidões comerciais e à poderosa proteção de Nubar Paxá, que era um deles. Hoje, seu número não ultrapassa 4.000: dois terços estão em comunhão com a Santa Sé, enquanto os demais aderem à Igreja Gregoriana. Os armênios unidos formam uma diocese instituída em 1850 e subordinada, como as dioceses da Turquia, ao Patriarcado da Cilícia-Constantinopla.

6° Maronitas. — Os maronitas, vindos do Líbano para o Egito por motivos comerciais, ainda não possuem um bispado. Seu número continua crescendo, e fala-se em nomear um bispo para liderá-los em breve.

7° Sírios. — A Igreja Síria, cujo chefe reside em Mardin com o título de Patriarca de Antioquia, conta com apenas 300 fiéis no Egito, divididos entre o Cairo e Alexandria. Um corepíscopo, fixado no Cairo, representa a autoridade patriarcal.

8° Caldeus unidos. — Os caldeus unidos também são muito poucos no Egito e não possuem nenhuma organização específica.

M. U. Chevalier, em seu Répertoire des sources historiques du moyen âge. Topo-Bibliographie, in-4°, Montbéliard, 1894, no artigo "Alexandrie", fornece uma lista bastante completa das obras sobre a capital do Egito cristão. Muitas delas já foram indicadas ao longo deste trabalho. Aqui, limitamo-nos a citar as principais, excluindo propositalmente aquelas que tratam exclusivamente da Igreja Copta: J.-B. Sollier, Tractatus historico-chronologicus de patriarchis Alexandrinis, in-fol., Antuérpia, 1708; Tractatus preliminaris de patriarchis Alexandrinis, em Acta Sanctorum, t. VII jun.; E. Renaudot, Historia patriarcharum Alexandrinorum, in-4°, Paris, 1713; Le Quien, Oriens Christianus, Paris, 1740, t. II, p. 399-512; t. III, p. 1141-1146; J. M. Neale, A history of the holy eastern Church: The Patriarchate of Alexandria, 2 vol., in-8°, Londres, 1847; A. von Gutschmid, Verzeichnis der Patriarchen von Alexandria, em Kleine Schriften, t. II, in-8°, Leipzig, 1890, p. 395-525; P. Rohrbach, Die Patriarchen von Alexandria, em Preussische Jahrbücher, 69, 1892, p. 50-83, 207-233 (cobre apenas até 451); Arquimandrita Porfírio, L’Orient chrétien. Le patriarcat d’Alexandrie (em russo), t. I, in-8°, São Petersburgo, 1899.

J. PARGOIRE