AMALÁRIO DE METZ.
I. Biografia. II. Escritos. III. Doutrina.
I. BIOGRAFIA.
Amalarius, ou melhor, "Amalheri" segundo sua própria assinatura, cognominado Fortunatus, talvez também Symphosius, foi educado na escola do palácio de Aachen, sob a direção de Alcuíno (após 782). Em 811, ele ocupava a sé de Trier por vontade do imperador Carlos, que o encarregou de ir a Hamburgo consagrar a primeira igreja desse país. Em 818, ele foi enviado a Constantinopla como embaixador, e só retornou à Europa após a morte de Carlos Magno. A partir dessa data, ele é visto sendo substituído como arcebispo de Trier por uma poderosa figura, Hetti, enquanto ele mesmo só carrega o título de abade: mas ele não deixa de agir e escrever. Segundo Adhemar, ele teria desempenhado um papel importante no sínodo de Aachen, em 817. No final de 825, ele tomou parte ativa no concílio de Paris para o caso das santas imagens, e foi designado por Luís, o Piedoso, para uma nova embaixada a Constantinopla. Mas a essa missão logo se substituiu outra junto ao papa Gregório IV. Por volta de 834, foi-lhe confiada a administração da diocese de Lyon, durante a desgraça do arcebispo rebelde Agobardo. O célebre diácono Floro então organizou contra ele uma violenta oposição, que resultou no restabelecimento de Agobardo e na condenação de Amalário como herege, na dieta de Kiersy, em 838. Cerca de dez anos depois, Amalário reaparece, misturado às controvérsias teológicas às quais deu origem o caso de Gottschalk. Ele morreu pouco depois de 850, em 29 de abril, e foi sepultado em Metz, na cripta do mosteiro de Saint-Arnoul, onde desfrutava outrora de um culto bastante popular.
II. ESCRITOS.
As obras compostas por Amaláio são bastante numerosas, embora nem todas nos tenham chegado. A primeira em data é sua resposta à circular imperial de 811/812, relativa às cerimônias do batismo. P. L., t. XCIX, col. 893; Jaffé, Biblioth. rer. Germanicarum, t. IV, col. 406; Mon. German. hist., Epistol., t. V, p. 243. Vêm em seguida suas Eclogæ de officio missæ, P. L., t. CV, col. 1315; os Versus marini, relato de sua viagem a Constantinopla, P. L., t. CI, col. 1287; Jaffé, op. cit., t. IV, col. 426; Monumenta German. hist., Poetæ Latini ævi Carol., t. I, p. 426; sua carta ao abade Pedro de Nonantula, para anunciar-lhe o envio das três obras precedentes, P. L., t. XCIX, col. 890; Jaffé, op. cit., t. IV, col. 423; Mon. Germ. hist., Epistol., t. V, p. 245; uma longa carta ao abade Hilduíno, sobre a época das ordenações e os diferentes jejuns, publicada apenas em 1888 pelo beneditino G. Meier, Neues Archiv, t. XIII, p. 305; Mon. Germ. hist., Epistol., t. V, p. 247; a grande obra De ecclesiasticis officiis, oferecida a Luís, o Piedoso, por volta de 823, P. L., t. CV, col. 985; o De ordine antiphonarii, composto após a viagem a Roma sob Gregório IV, P. L., t. CV, col. 1243; enfim, cinco cartas bastante curtas e sem importância. P. L., t. CV, col. 1333-1339; Mon. Germ. hist., Epistol., t. V, p. 259-266. Floro de Lyon faz menção de um último volume que Amaláio havia intitulado o Embolis ou o complemento de seus opúsculos: não se sabe o que era. Não temos mais sua resposta à consulta de Pardulo de Laon sobre a predestinação, nem o prólogo posto por ele no início do lecionário, cf. De ord. antiph., P. L., t. CV, col. 1273 A; nem o antifonário para o qual foi composto o De ordine antiphonarii. O suplemento ao De Eccl. officiis, publicado por Mabillon, Vet. Analect., t. IV, col. 602, a partir de um manuscrito de Adhemar (Paris, Biblioth. nation., 2400), deve ser apócrifo. É também pela única e insuficiente autoridade de Adhemar que se atribuiu até agora a Amaláio a regra dos cônegos aprovada no sínodo de Aachen em 817. P. L., t. CV, col. 821. A carta a um bispo eleito, publicada por Martene e Durand, Thesaur. anecd., t. I, col. 25; reproduzida P. L., t. CV, col. 1340, e Mon. Germ. hist., Epistol., t. V, p. 266, n'est pas authentique; da mesma forma, a resposta às questões de Carlos Magno sobre o batismo atribuída a Amaláio de Trier em um manuscrito de Munique, Mon. Germ. hist., Epist., t. V, p. 273. Sobre a não-autenticidade das Eclogæ, ver Revue bénéd., 1908, p. 304-20.
III. DOUTRINA.
A contribuição de Amalário ao tesouro da doutrina teológica não é considerável: como a maioria dos eruditos da época carolíngia, ele mal fez mais do que compilar os escritos dos séculos anteriores. Os próprios protestantes reconhecem, no entanto, que ele se pronunciou categoricamente sobre a mudança real do pão e do vinho no corpo e sangue de Jesus Cristo na Eucaristia. A heresia de que Floro o acusou a respeito do triforme corpus Christi não pode ser levada a sério. O grande erro de Amalário é ter levado à exageração e à puerilidade o emprego do método alegórico na explicação dos textos e das particularidades litúrgicas. Quanto ao resto, somos-lhe devedores de uma multidão de informações de altíssimo interesse; pode-se mesmo dizer que é a ele, em grande parte, que a liturgia composta, nascida do compromisso entre o rito romano e o galicano ou antigregoriano, a mesma, no fundo, que utilizamos hoje, deve sua origem.
Referências
J. Sirmond, De duobus Amalariis, em Op. var., Paris, 1696, t. IV, col. 641-647; Hist. litt. de la France, t. IV, p. 418 ss. e 531-546; G. Morin, La question des deux Amalaire, em Rev. bénédictine, 1891, t. VIII, p. 433-442; Amalaire, esquisse biographique, ibid., 1892, t. IX, p. 337-351; R. Mönchemeier, Amalar von Metz, sein Leben und seine Schriften, Münster, 1893; R. Sahre, Der Liturgiker Amalarius, Dresden, 1893; G. Morin, Encore la question des deux Amalaire, em Rev. bénéd., 1894, t. XI, p. 241-243; Id., Note sur une lettre attribuée faussement à Amalaire de Trèves, ibid., 1896, t. XIII, p. 289-294; R. Sahre, art. Amalarius von Metz, et Amalarius von Trier, em Realencyklop. für protestant. Theologie, t. I, Leipzig, 1896; J. Haussleiter, Das apostolische Symbol in dem Bericht des Erzbischofs Amalarius, em Neue Kirchl. Zeitschr., t. IX, p. 341-351; G. Morin, Amalaire de Metz et Amalaire de Trèves, em Rev. ecclés. de Metz, 1897, t. VIII, p. 30; E. Dümmler, Amalarii epistolæ, em Mon. Germ. histor., Epist., t. V, p. 240-274; Dictionnaire d'archéologie chrétienne, t. I, col. 1823-1330.
G. Morin.
