Alvarez de Paz, Jacques



ALVAREZ DE PAZ Jacques, escritor ascético e místico.

I. Vida e Escritos. II. Apreciação de sua doutrina.

I. VIDA E ESCRITOS.

Álvarez de Paz nasceu em Toledo em 1560, entrou na Companhia de Jesus em 1578, fez seus estudos em Alcalá, ensinou filosofia e teologia em Lima, tornou-se provincial do Peru, e morreu em Potosí em 1620. Segundo a confissão que fez ao seu confessor, sua união de espírito e de coração com Deus era tão profunda que não foi suspensa um único momento, durante vinte e cinco anos, em meio às funções mais distrativas. Frequentemente, ao dar aulas ou pregar, inflamava-se tanto ao falar de Deus que caía em desmaio; os ouvintes eram obrigados a carregá-lo de sua cátedra. Para esconder essa união extática, absteve-se por algum tempo do ministério da palavra, até que, por revelação divina, recebeu a ordem de continuar. Sua reputação de santidade era tão grande que, quando chegou quase moribundo a Potosí, todos os habitantes saíram ao seu encontro para vê-lo e recomendar-se às suas orações. No dia de sua morte, os cem mil operários que extraíam prata das minas cessaram todo o trabalho em sinal de luto.

As obras espirituais do P. Álvarez foram publicadas sucessivamente em três volumes in-folio. Suas qualidades marcantes são o espírito metódico, a clareza, a piedade terna. Mas ele tem o defeito de ser muito prolixo em seus desenvolvimentos.

Nas obras completas, o tomo III é o mais notável. É também o único que examinaremos em detalhe.

Tomo I, De vita spirituali ejusque perfectione, Lyon, 1608 e 1611, in-fol.; Mogúncia, 1614, in-fol.; Poznań, 1618, in-4°. É dividido em cinco livros: L. I, De incitamentis religiosorum ad vitam spiritualem consectandam; L. II, De vita spirituali et ejus partibus (de quindecm gradibus; de vita activa, contemplativa et mirata); L. III, De natura perfectionis; L. IV, De mirabili dignitate perfectionis; L. V, De excitando desiderio perfectionis.

Tomo II, De exterminatione mali et promotione boni, Lyon, 1613 e 1623, in-fol.; Mogúncia, 1614, in-fol. Este tomo também é dividido em cinco livros: L. I, De fuga peccatorum, extinctione vitiorum et victoria tentationum; L. II, De mortificatione virium animæ et abnegatione; L. III, De adeptione virtutum; L. IV, De humilitate; L. V, De paupertate, castitate et obedientia. Publicou-se uma tradução do Tratado das virtudes, por Brouillon, Paris, 1838, in-8°.

Tomo III, De inquisitione pacis sive studio orationis, Lyon, 1617, 1619 e 1623; Mogúncia, 1619, in-fol.; Colônia, 1620, 1628, in-8°. Há igualmente cinco livros neste tomo: L. I, De oratione tum vocali, tum mentali; L. II, De his quæ præcedunt, concomitantur et sequuntur orationem mentalem;L. III, De materia orationis mentalis (ad incipientes, ad proficientes, ad perfectos). O livro III é uma coletânea de meditações, seguindo o plano dos Exercícios de Santo Inácio. Elas apresentam a particularidade de que, salvo as primeiras, são redigidas sob a forma de conversas com Deus, Nosso Senhor ou os santos; método excelente para habituar a alma às afeições e à familiaridade com Deus. Publicaram-se traduções francesas destas Meditações sobre a vida de Nosso Senhor (traduzido por Le Mullier, Besançon, 1847 e 1848; Tournai, 1860, in-12); L. IV, De affectibus orationis mentalis; com um apêndice. É uma longa sequência de exercícios afetivos e muito piedosos sobre as obras e sobre os mistérios da vida de Nosso Senhor; L. V, De perfecta contemplatione (com o discercimento dos espíritos).

Em 1875-1876, Louis Vivés reeditou em Paris as obras completas de Álvarez de Paz em 6 vol. in-4°. Publicaram-se também um grande número de extratos, em diferentes épocas.

II. APRECIAÇÃO DE SUA DOUTRINA.

Álvarez de Paz parece ser o primeiro que empregou o termo oração afetiva para designar o estado de oração ordinária que está imediatamente acima da meditação (t. III, l. IV). O caráter deste exercício consiste em que as afeições o superam notavelmente (não dizemos totalmente) sobre as reflexões.

Em seguida, ele coloca o que chama de começo da contemplação; o que compreende três graus designados pelas palavras: intuição da verdade, recolhimento, silêncio espiritual. Se se quisesse ater-se às suas definições, não se conseguiria distinguir bem esses estados uns dos outros, nem da oração afetiva. Mas a ideia que ele faz deles emerge suficientemente do conjunto de sua redação, desde que se a liberte de algumas frases enfáticas. Esses três graus inferiores parecem ser apenas um mesmo estado considerado de pontos de vista diferentes. Tem por característica que a alma se simplifica ainda mais do que na oração afetiva. A multiplicidade dos atos diferentes diminuiu notavelmente, não apenas para a inteligência, mas para a vontade. Daí o nome muito claro que Bossuet lhe dá: Oração de simplicidade (Opúsculo composto para a Visitação de Meaux, e intitulado: Maneira curta para fazer a Oração em for). Diz-se ainda: Oração de simples olhar ou de atenção amorosa a Deus (Courbon), ou de recolhimento ativo, ou de repouso ativo, enfim de contemplação ordinária ou adquirida. São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal recomendam esta via, como a oração própria da Visitação. (Obras de Santa Chantal, ed. Paris, 1876, t. III, p. 278. Outra passagem na edição Migne, Paris, 1862, sob este título: Resposta ao Artigo 24 do Coutumier, t. II, p. 232). Acrescentemos, em vista do que se segue, que quando esta oração é árida e amarga, ela se torna o que São João da Cruz chamou de noite do sentido ou o primeiro purgatório da alma. É a fronteira do estado místico.

As explicações precedentes não têm apenas por objetivo nos ajudar a dissipar certas obscuridades de Álvarez de Paz e de seus numerosos imitadores. Elas nos conduzem a uma observação importante, é que existe, entre os antigos autores, várias divergências de linguagem das quais nem sempre se percebeu. Cada um deles entende à sua maneira certas palavras, como a de contemplação, tomada sem qualificativo. Quando não se é advertido, compreende-se certas proposições de maneira inexata, ou se crê erroneamente que se fez concordar textos, porque eles empregam os mesmos termos; mas eles falam de coisas diferentes. Assim, para alguns autores, a contemplação é tudo o que sucede à oração de discurso; e então a oração afetiva é englobada por essa palavra. Em outros, como Álvarez de Paz, a contemplação não começa senão um pouco depois, com a oração dita de simplicidade. Pura questão de definição! Para São João da Cruz, é preciso, parece, subir até a noite do sentido. Enfim, para Santa Teresa, a palavra designa francamente o estado místico. Há, além disso, os autores cuja ideia não se pode adivinhar exatamente. Assim, hoje em dia, o termo contemplação tende a desaparecer da linguagem precisa; instintivamente se o acha ambíguo e obscuro. Quanto ao de contemplação adquirida, ele quase não é mais compreendido. Prefere-se dizer simplesmente: a via ordinária compreende quatro graus: a oração vocal, a meditação, a oração afetiva, a oração de simplicidade. Além disso, encontram-se os estados místicos, outrora chamados contemplação infusa. Dessa forma, sabe-se imediatamente o que se quer dizer.

No livro V, t. III, Álvarez apresenta uma classificação bastante defeituosa desses estados místicos. Primeiro, ele esquece o matrimônio espiritual. Depois, em seu pensamento, os quinze graus que ele distingue são especificamente diferentes e formam quase todos ascensões sucessivas. Ora, a maioria são simples maneiras de ser de uma coisa única que, por causa de circunstâncias muito secundárias, toma os nomes, ora de silêncio, ora de jubilação, ora de sono, etc. Vários se sucedem sem ordem determinada e quase na mesma época da vida espiritual. É preciso contentar-se em organizar os grandes conjuntos, como fez Santa Teresa no Castelo.

Em Álvarez, as descrições detalhadas, frequentemente reproduzidas, têm certo valor. Todavia, sua maneira de pensar o leva menos a observar pacientemente do que a filosofar e a mostrar muita erudição. Ele não parece ter conhecido as obras de Santa Teresa, ainda muito recentes. Consequentemente, ele pode ser considerado um dos últimos representantes das antigas escolas.

Ele tem o mérito de reconhecer esta proposição capital de que na oração de quietude (c. IV), e não apenas na de união plena (c. V), Deus realmente faz sentir sua presença. É aí, de fato, o caráter comum a todos os estados místicos. Não é apenas, como creem os profanos, um repouso amoroso; esse amor é provocado por algo de característico, por uma posse misteriosa de Deus. Os verdadeiros graus místicos não são senão os graus de intensidade e de clareza desta manifestação.

No livro IV, parte III, c. VIII, Álvarez busca estabelecer uma doutrina que os escolásticos sempre repeliram com razão, em nome da metafísica. É que, em certos estados afetivos e místicos muito elevados, pode-se amar a Deus sem nenhum conhecimento concomitante. No máximo, ele admite então um conhecimento inicial e não continuado. Para justificar sua opinião, o P. Álvarez apela à experiência. "Não se deve objetar", diz ele, "que essa ideia só veio a ignorantes e que os sábios se contentaram em repeti-la com confiança. Pois conheço um homem muito versado nos estudos filosóficos e cuja formação foi grandemente completada pelos dons divinos e pela pureza de vida. Ora, ele experimentava frequentemente um amor sem nenhum conhecimento. O fato era tão evidente para ele quanto o sol em pleno meio-dia." Pode-se responder que aí há uma experiência mal interpretada, uma confusão entre as aparências e a realidade. Crê-se sentir apenas um amor violento; mas ele mascara um conhecimento sutil. Não se reflete mais sobre esse conhecimento, porque a tempestade de amor que Deus excita diretamente a seu respeito não está em proporção com ela e solicita excessivamente a atenção. Se não se pensasse em Deus de forma alguma, como poderia saber-se que é ele precisamente quem se ama? Como poderia dizer-se que se estava em oração? Seria preciso antes admitir que se estava imerso em não sei qual estado poético, sem objeto determinado.

Em contrapartida, Álvarez trata sabiamente a questão do desejo das graças extraordinárias, l. V, parte II, c. XIII. Ele declara que não se deve desejar as revelações, as visões (das criaturas), porque são uma fonte de ilusões. Mas, para a alta contemplação ou união mística, ele prova eloquentemente que se pode desejá-la e pedi-la. Ele conserva assim a doutrina que se destaca claramente das obras de Santa Teresa e de São João da Cruz. Admitia-se no século XVII (cf. Filipe da Santíssima Trindade, Vallgornera, Antônio do Espírito Santo, Courbon, o cardeal Brancati, etc.), mas no século XVIII, os rigoristas, de espírito azedo, propuseram certas restrições. De maneira mais geral, pode-se dizer que Álvarez sempre apresenta a espiritualidade sob uma luz consoladora, própria a dilatar a alma. "Deus", diz ele, "é um príncipe muito bom e um pai muito amoroso, que quer que seus familiares e servos sejam alegres... Ele produz neles essa alegria pela devoção e a suavidade espiritual." L. II, parte III, c. I, IV.

A. POULAIN.