ALPHA E ÔMEGA, nomes da primeira e da última letra do alfabeto grego, que serviram para designar simbolicamente Jesus Cristo. — I. No Apocalipse. II. Nos Padres da Igreja. III. Nos gnósticos. IV. Nos antigos monumentos cristãos.
I. NO APOCALIPSE.
Eles são empregados três vezes e a fórmula da qual fazem parte destina-se a atestar a certeza de um anúncio profético. «O Senhor Deus que é, que foi e que há de vir, o Todo-Poderoso» diz de si mesmo: «Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim.» Apoc., I, 8. Os comentaristas não estão de acordo para determinar a pessoa que fala, se é Deus Pai ou Jesus Cristo. O Pai é expressamente designado como o eterno e o todo-poderoso. Apoc., I, 4; IV, 8. Calmet, Commentaire littéral sur l’Apocalypse, 2ª ed., Paris, 1724, t. VIII, p. 925. Se é Deus Pai quem fala assim, a divindade de Jesus Cristo se destacará ainda mais, quando o próprio Salvador se nomear o Alfa e o Ômega. Ora, ele certamente o faz, Apoc., XXI, 6; XXII, 13, e ele explica o significado deste nome simbólico, quando acrescenta: «Eu, o princípio e o fim», o princípio de quem tudo deriva, e o fim para o qual tudo deve ser reportado, «autor das graças e o distribuidor das coroas, o primeiro objeto de vosso culto e de vossas esperanças, e o fim de vossas ações.» Calmet, op. cit., p. 1024. Ele acrescenta ainda: «o primeiro e o último.» Apoc., XXII, 13. Estas expressões, já aplicadas a Jesus Cristo, Apoc., I, 17; II, 8, leem-se em Isaías, XLI, 4; XLIV, 6; XLVIII, 12, onde elas significam que Deus é o autor e o criador de todos os seres e que, a esse título, ele será o mesmo no fim dos tempos, que ele é, portanto, eterno e imutável, e o único Deus. Knabenbauer, Comment. in Isaiam, t. II, Paris, 1887, p. 87, 150, 221. Ao aplicar a si mesmo os atributos divinos, Jesus Cristo afirma sua divindade e sua igualdade com aquele que em outro lugar ele chamou de seu Pai. Compara-se frequentemente este nome simbólico de A e Ω às explicações que os rabinos deram das letras hebraicas א e ת, sem que haja necessariamente paralelismo e dependência. Talmude de Jerusalém, Haghiga, II, 1; trad. Schwab, t. VI, p. 275; Schettgen, Horae hebr. et talmud., p. 1086; Schuhl, Sentences et proverbes du Talmud, 1878, p. 206, 280-281.
II. NOS PADRES DA IGREJA.
Os antigos escritores eclesiásticos adotaram o nome simbólico A Ω, dado pelo Apocalipse a Jesus Cristo, mas lhe atribuíram significados diferentes.
1º Alguns conservaram o sentido primitivo, exposto acima. Clemente de Alexandria não apenas o aceitou, Strom., VI, 16, P. G., t. IX, col. 369, ele o explicou. O Logos assim denominado, disse ele, Strom., IV, 25, P. G., t. VIII, col. 1365, é infinito; é um círculo no qual todas as potências se enrolam e se unem; seu começo e seu fim se confundem e não deixam entre eles nem distância nem intervalo. O Verbo bem mostra que é A e Ω, ele que dá leite, ao se dar a si mesmo aos cristãos aqui embaixo e no lugar do repouso eterno. Paedagog., I, 6, P. G., t. VIII, col. 292. Para Tertuliano, Liber de monogamia, 5, P. L., t. II, col. 935, Jesus Cristo se nomeia A e Ω a fim de mostrar que tudo se resume a ele e se reúne nele de α em ω e de ω em α. Orígenes, Comment. in Joan., I, n. 22, 23, P. G., t. XIV, col. 57, 61, conclui que o Filho de Deus é o princípio de todos os seres. São Jerônimo, Cont. Jovinian., I, n. 18, P. L., t. XXIII, col. 247-248, constata que Jesus, vindo no fim dos tempos, trouxe todas as coisas ao seu começo e ligou em círculo ω a α. São Isidoro de Sevilha, Etym., I, 9, P. L., t. LXXXII, col. 76-77, repete a mesma doutrina. O autor da Expositio in VI visiones, 1, 8, entre as obras de Santo Ambrósio, P. L., t. XVII, col. 768-769, reconhece em Jesus Cristo o α, o criador do gênero humano e o autor da salvação, e o ω, o fim da morte, da lei e de todo pecado. Prudêncio, Cathemerinon, IX, 10-12, P. L., t. LIX, col. 863, cantou-o nestes termos:
Corde natus ex parentis ante mundi exordium / Alpha et Ω cognominatus: ipse fons et clausula / Omnium quae sunt, fuerunt, quaeque post futura sunt.
(Nascido do coração do Pai antes do começo do mundo / Chamado Alfa e Ômega: ele mesmo a fonte e o fim / De todas as coisas que são, foram e que hão de ser.)
São Paulino de Nola, Poema XXXI, v. 89-96, P. L., t. LXI, col. 673, também celebra em versos latinos o α e o Ω e nele vê o triunfo de Jesus Cristo que, depois de descer aos limbos, subiu ao céu. Primasius, Comment. in Apoc., I et V, P. L., t. LXVIII, col. 799, 922, reconhece que por ali Jesus Cristo se diz Deus, eterno e criador de todas as coisas. Beda, In Apoc., I, 8, P. L., t. XCIII, col. 135; Alcuíno, Comment. in Apoc., I, P. L., t. C, col. 1095; São Brunão de Asti, Exposit. in Apoc., I, P. L., t. CLXV, col. 610-614; Haimão de Halberstadt, Exposit. in Apoc., I et VII, P. L., t. CXVII, col. 948, 1195, 1217, ensinam a mesma doutrina. São Tomás, Cont. gentes, l. III, c. XVII, cita Apocalipse, XXII, 13, para provar que Deus é o fim de todas as coisas.
2º Os Padres deram ao nome simbólico A e Ω outro significado; reconheceram nele a união da divindade e da humanidade na pessoa de Jesus Cristo. Orígenes, Comment. in Joan., I, n. 34, P. G., t. XIV, col. 80-84, explicou-o assim com muitas sutilezas: O Verbo que era A como Deus, tornou-se Ω, ao se fazer homem; o Filho de Deus que reuniu em si todas as coisas é como princípio na humanidade que ele tomou e como fim, no último dos santos que ele recompensará; ele é também como princípio em Adão, o primeiro homem que ele criou, e como fim, em seu advento neste mundo. Primasius, Comment. in Apoc., V, P. L., t. LXVIII, col. 932, pensou que o autor do Apocalipse havia repetido várias vezes que Jesus é A e Ω, a fim de insinuar mais frequentemente a divindade e a humanidade de Cristo. São Gregório Magno, In Ev., homil. XXII, n. 8, P. L., t. LXXVI, col. 1179-1180, pregou ao povo que nosso redentor é A, porque ele foi Deus antes de todos os séculos, e Ω, porque se fez homem no fim dos séculos. Beda, In Apoc., XXII, P. L., t. XCIII, col. 205; Alcuíno, Comment. in Apoc., I, P. L., t. C, col. 1095; Haimão de Halberstadt, Exposit. in Apoc., I et VII, P. L., t. CXVII, col. 948, 1195, 1217, reproduziram esta explicação.
III. NOS GNÓSTICOS.
Marcos, discípulo de Valentino, havia visto a Verdade, que pertencia à tétrade dos seres superiores, como uma mulher cuja cabeça representava A e Ω. Por sua vez, o Éon Jesus continha em si o número de todos os elementos; é o que manifestou bem, no dia de seu batismo, a descida da pomba, pois o valor das letras do nome grego desta ave equivale ao de Ω e de A; é de 801. Tertuliano, De prescript., 50, P. L., t. II, col. 70; S. Irineu, Cont. her., I, XIV, n. 3, 6; XV, n. 1, 2, P. G., t. VII, col. 601, 608, 616, 617. Primasius, Comment. in Apoc., V, P. L., t. LXVIII, col. 932-933, guardou a lembrança do valor numérico do nome grego, περιστερά, da pomba, e como no batismo de Jesus, a pomba representava o Espírito Santo, ele conclui contra os arianos e os outros heréticos que o Espírito Santo tem a mesma natureza que o Pai e o Filho, e que lhes é consubstancial e coeterno.
IV. NOS ANTIGOS MONUMENTOS CRISTÃOS.
A tradição monumental acompanha a tradição escrita. Os antigos gostavam de representar este símbolo de Jesus Cristo. Ele é visto pintado ou gravado em uma multidão de monumentos públicos ou privados, em igrejas e cemitérios, em medalhas e estandartes militares, nas casas de particulares, sarcófagos, quadros, afrescos, mosaicos, em inscrições, anéis, lâmpadas, ânforas, tijolos, caixas, vidros e colheres, sob diversas formas, sozinho ou unido a outros temas. É no decorrer do século IV que seu uso se torna muito frequente e muito difundido, e é encontrado em todas as regiões do Império Romano. Apresenta diferentes significados. Tem ordinariamente o sentido que lhe deu o autor do Apocalipse. Mas, junto ao monograma de Cristo, marcou de forma mais especial a divindade de Jesus Cristo e foi empregado sobretudo na África cristã como uma protestação de fé contrária à heresia de Ário. Martigny, Dictionnaire des antiquités chrétiennes, 2ª ed., Paris, 1877, p. 476-477, 521. Em alguns monumentos, ele se encontra com o triângulo. Embora o significado antigo do triângulo seja desconhecido, J.-B. de Rossi, De titulis christianis Carthaginiensibus, em Pitra, Spicilegium Solesmense, t. IV, Paris, 1858, p. 514-515, pensa que ele representa a Trindade e que, junto ao monograma de Cristo e às siglas α e ω, ele simboliza Jesus Cristo ou a segunda pessoa da Santíssima Trindade encarnada. Aringhi, Roma subterranea, Roma, 1651, t. I, p. 605, já o havia admitido. Martigny, Dict. des antiquités chrét., p. 766, e Kraus, Realencyklopädie der christlichen Alterthum, t. I, p. 378, o reconheceram. Primasius, Comment. in Apoc., V, P. L., t. LXVIII, col. 932, supunha que a fórmula: «Eu sou o alfa e o ômega», era repetida três vezes no Apocalipse para indicar a unidade de natureza das três pessoas divinas.
Referências: J. Chr. Wolf, Curae philologicae et criticae in SS. Apostolorum Jacobi, Petri, Judae et Joannis epistolas hujusque Apocalypsim, p. 443; Aringhi, Roma subterranea, Roma, 1651, t. II, p. 564-565, 703-705; Gretzer, De Cruce, I, 9-12, 30, Opera, Ratisbona, 1734, t. III, p. 20-22, 58-60; Muratori, Notae et observationes in S. Paulini opera, P. L., t. LXI, col. 930; Martigny, Dictionnaire des antiquités chrétiennes, 2ª ed., Paris, 1877, p. 50-51; Barbier de Montault, Traité d’iconographie chrétienne, Paris, 1890, t. I, p. 84, 300; t. II, p. 21, 24, 99, 101, 179, 442; Kirchenlexikon, 2ª ed., Freiburg-im-Breisgau, 1882, t. I, p. 581-583; Marie-Michel, O. M., Christus Alpha et Omega, seu de Christi universali regno, Lille, 1898, p. 79-84; Hauck, Realencyklopädie fur protestantische Theologie und Kirche, Leipzig, 1896, t. I, p. 1-12; Dictionnaire d’archéologie chrétienne, t. I, col. 1-25.
E. MANGENOT.
